Tudo Ensopado!
Ontem à tarde o tempo estava péssimo com muita chuva e nuvens carregadas. Típico final de semana sem graça. Olhei da varanda do apartamento para o Parque Barigui e a água estava transbordando para todos os lados, a ponto de cobrir as pistas laterais onde os cachorros andam e algumas pessoas também.
E como gosto de fortes emoções, vesti meu calção de ginástica, tênis, camiseta e um boné, e fui em direção ao parque. Para os invejosos vou escrever que fui correndo, só para chatear os sedentários.
Quando cheguei ao Parque, entrando pelo lado da Rodovia do Café, enxerguei que tudo era um espelho de água, não havia lugar seco para minha pequena corrida costumeira de vinte e poucos quilômetros. Percurso este que faço diariamente para conservar minha barriga.
A tradicional ponte do amor (que quase ruiu com o peso dos cadeados que os namorados penduravam nas grades laterais) parecia as Cataratas de Foz do Iguaçu, jorrava água aos montes, barrenta e perigosa. Nem pensei duas vezes e iniciei minha “corrida” vertiginosa pela lateral da lateral do lago.
Nem consegui alcançar os quinhentos primeiros metros e ouvi alguém me chamar:
- Fariseu, oi Fariseu! Tá louco? Quer morrer “derrapado”?
- Derrapado? - Perguntei.
- Claro, derrapado! - respondeu meu amigo Sócrates - nessa velocidade você vai derrapar e cair na primeira curva que fizer!
- Nada! Meu tênis é Reebok de solado duplo e com freio ABS!
- Pare! Não seja imprudente, a água deixou o solo muito liso...
E como não sou imprudente: parei!
- E daí, tudo bem? - Perguntou o Sócrates.
- Tudo, e com você?
- Poderia estar melhor...
- Aconteceu alguma coisa? Posso ajudá-lo?
- Pode me ajudar a tirar minha lancha da água?
- Lancha? - Só daí eu vi uma lancha enorme dentro do lago - Você sabe que é proibido andar de lancha no Parque Barigui?
- Sim, eu sei. É que meu barco é novo e resolvi dar umas voltas...
- E a polícia não viu?
- Desliguei o motor e eles nem chegaram a ver nada.
- Sorte, hein?
- Isto não é nada: dê uma olhada lá perto de onde estão as capivaras...
- Meu Deus! - olhei e não acreditei, mas tinha um submarino amarelo bem maior do que a lancha do Sócrates. - De quem é aquele? - Perguntei.
- Do Neymar! Ele não tinha mais no que gastar e comprou o submarino para um dia, se puder lembrar, passear dentro dele sob as águas do rio Barigui. A tripulação contratada permanecerá a bordo, aguardando a vinda do proprietário.
- Ah, eu não acredito no que estou vendo: você com uma lancha e o Neymar com um “baita” submarino bem aqui no Parque Barigui?!
- Mas é verdade!
- É mentira!
- É verdade!
- Mentira - Insisti. - não posso nunca acreditar no que eu estou vendo...
- E por que, não?
- Parece tudo surreal!
- Você acha? É porque você não reparou bem e não viu o Maria Louca correndo a mil por hora, montando em seu cavalo preto pintado de branco, dando voltas no Parque!
- Não! Não pode ser verdade...
- Claro que pode - arrematou o Sócrates: se você escreveu que numa tarde fria e chuvosa, você vestiu calção, colocou camiseta, calçou o tênis e foi “correr” vinte e poucos quilômetros na tarde fria e chuvosa, e eu acreditei sem pestanejar; é óbvio que você sem muito esforço mental pode muito bem acreditar que eu tenho uma lancha, o Neymar um submarino amarelo e o Maria Louca um cavalo pintado, não é mesmo? Lembre-se que chumbo trocado não dói!
- Mas eu estou vendo a lancha, o submarino e o cavalo - supliquei.
- Tudo ilusão barata, foi o Mandrake que passou por aqui e fez umas mágicas para confundir os incautos, que querem fingir que são atletas e não são!
“Mentir nem sempre cola. Quando eu digo que sou atleta, gosto de fazer ginástica, levantar peso e correr a Maratona, nem meu amigo Sócrates acredita. E olhe que encontro ele só de vinte em vinte anos!”
Edson Vidal Pinto