Um estranho no ninho
Tenho que manter temas variados quando escrevo estas minhas crônicas diárias para fugir às vezes dos acontecimentos do cotidiano, porquanto estes oscilam em críticas ao Bolsonaro, Covid-19, besteiras da vez protagonizada por algum ministro do STF, as cachorrices do Maia, as artimanhas do Alcolumbre ou as maledicências de algum político da ativa ou aposentado pelas urnas. Afinal em tempo de crise deixar de lado as agruras da vida parece que oxigena a vida e renova o ânimo.
Portanto vou relembrar um episódio marcante de minha vida pública porque me abriu as portas para conhecer novos e queridos amigos. Foi quando o então governador eleito Jaime Lerner me convidou para ocupar a pasta da Secretaria de Estado da Justiça, no período de seu primeiro governo. Uns cinquenta dias antes fui surpreendido quando o Jaime telefonou para minha casa pedindo que eu fosse ao seu encontro no dia seguinte, porque ele teria referências sobre minha pessoa e queria me ouvir falar sobre as áreas da Segurança Pública, Justiça, Procuradoria do Estado e Ministério Público.
Dito encontro entre nós dois ocorreu em uma sala do escritório do advogado dr. Eduardo Rocha Virmond, em um edifício da Praça Osório, que durou mais de quatro horas. Depois daquela reunião fiquei curioso em querer saber quem havia feito referências ao meu nome pois não conhecia o governador e muito menos as pessoas que sempre o acompanhavam. No início de dezembro o governador anunciou na imprensa a maioria dos nomes que deveriam assumir os cargos de primeiro escalão, de estatais e presidência do Banestado. Neste interregno não fiquei sabendo do nome de quem me aproximou do Jaime.
Foi no final de dezembro quando eu estava participando como Procurador de Justiça de uma sessão de julgamento na 1a. Câmara Criminal do TJ, presidida pelo saudoso Des. Plinio Cachuba, que recebi um telefonema da sra. Duda Camargo, secretária pessoal do Jaime, pedindo que eu fosse com urgência ao encontro do mesmo, num edifício da rua Mateus Leme. Esperei terminar a sessão, atravessei a pé a Praça Nossa Senhora de Salete, e fui ao local indicado.
Lá fui recepcionado pela Duda, hoje de saudosa memória, e após saírem de uma sala o José Richa, o Saul Raiz e o governador este me convidou para entrar e sem muitas delongas me formulou o convite para ser o seu Secretário de Estado da Justiça. E não me deu a mínima chance de pensar e nem de falar com minha mulher, porque no dia seguinte ele teria que anunciar na imprensa os nomes que faltavam para completar sua equipe de governo. Honrado aceitei o convite só pedi que tivesse ampla liberdade para escolher os nomes das pessoas que trabalhariam comigo.
O Jaime disse que gostaria de indicar apenas uma pessoa, mas que eu teria carta branca para indicar que eu quisesse. Perguntei qual seria o cargo que ele queria dispor:
- Seria o cargo de Diretor-geral da Imprensa Oficial, um jornalista que seria do agrado do Richa.
Concordei de imediato, ficando as demais escolhas de acordo com meu perfil de trabalho. E daí José ?
Eu nunca fui filiado a nenhum partido político, com os políticos sempre mantive relacionamento protocolar, minha ideologia sempre foi a da lei e meu viés político institucional era o meu Ministério Público. Procurei ser criterioso e me cerquei de assessores de primeiríssima linha e nunca me arrependi das escolhas que fiz. E no governo? A saudosa primeira dama Fany Lerner foi quem mais me prestigiou porque tínhamos sido colegas de banco primário no Grupo Escolar anexo ao Instituto de Educação do Paraná.
O governador sempre me distinguiu com total apreço e sempre tivemos respeitoso relacionamento que perdura até hoje. No Palácio Iguaçu recebi sempre do Chefe de Gabinete Gérson Guellmann, toda a consideração e foi ele importante para o êxito de minha passagem no governo . A Duda foi também uma amiga de todas as horas e sempre prestativa. Nas semanas seguintes fui me relacionando com os demais Secretários e assessores do Governo e passei a transitar com desenvoltura.
Eu já não era mais um estranho no ninho pois com todos os integrantes da equipe escolhida pelo governador eu me identifiquei e assim pude contribuir, sem susto e nem dissabores, com o Estado do Paraná. Tenho saudades de todos, muitas saudades ...
“Minha gratidão eterna aos amigos advogado Eduardo Rocha Virmond e ao saudoso médico e professor Israil Cat, que tramaram minha aproximação com Jaime Lerner. Este, então, foi quem me abriu horizontes; me propiciou conhecer pessoas inesquecíveis de sua equipe de governo; e me deu oportunidade de servir o Estado do Paraná!”
Edson Vidal Pinto
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