Um Livro Com Muitas Histórias
Nos meados do mês de abril o ilustre des. Robson Marques Cury lançou o volume 1 de sua obra “A História do Poder Judiciário Paranaense” retratando aspectos curiosos da vida dos Togados e funcionários do Tribunal de Justiça.
Literato nato o nominado autor preencheu com sua obra uma lacuna que faltava na História do Poder Judiciário do Paraná, resgatando biografias não apenas de desembargadores como também de Juízes de Direito que fizeram trajetórias dignas na Carreira e contribuíram para o prestígio da Magistratura.
E dentro de seu perfil de homem justo e sempre preocupado com seus semelhantes, Marques Cury fez questão, também, de perpetuar no seus escritos figuras de servidores mais humildes e que estão sempre vivos em nossas lembranças pela convivência lhana e respeitosa nos misteres de suas atividades.
Com isso esses funcionários granjearam a amizade de todos nós. E vale a pena trazer aos leitores destas despretensiosas crônicas, que se aproximam há passos céleres de três mil edições diárias, para uma leitura agradável e pitoresca dos bastidores do nosso Tribunal que é desconhecido pela grande maioria dos jurisdicionados.
Sob o título “Ascensoristas dos Tribunais” o autor destaca a importância desses funcionários na manobra dos elevadores, sempre prestativos e dispostos para atender os usuários no sobe e desce sem muita chance de falarem muito. Ele cita vários deles e quero me ater apenas em três para relatar passagens que não fazem parte do livro.
O mais famoso foi o “Chico” que depois de falecer foi homenageado pelo TJ com uma placa de bronze colocada no hall da entrada principal dos elevadores. No prédio principal do Palácio da Justiça que é sede do TJ também funcionavam o extinto Tribunal de Alçada e no quarto andar as Varas Criminais da Capital, sendo que na 1a. Vara Criminal o Juiz de Direito titular era o dr. Dilmar Ignácio Kesler e eu era titular como Promotor de Justiça. Trabalhamos juntos por dez anos seguidos.
O dr. Dilmar além de ser um excelente Magistrado era também um ciclista emérito pois gostava de pedalar nos parques e ruas da cidade.
E quando coincidia de nós dois descermos juntos o elevador do prédio o Chico me olhava e para provocar meu amigo, dizia:
- O senhor por acaso não ouviu dizer que tem um Juiz dizendo por aí que anda de bicicleta ?
- Sim …
- Pois duvido que ele aguente descer e subir de bike até a cidade de Morretes.
O dr. Dilmar com seu estilo formal apenas dava uma risadinha e não dizia nada. A provocação sempre era repetida até que um certo dia o dr. Dilmar aceitou o desafio.
O Chico ficou satisfeito e disse que iria levar junto um filho jovem , forte e atleta para ajudar caso fosse necessário. E num determinado sábado o três saíram dispostos para enfrentar a longo trajeto pela Serra do Mar.
Na tarde daquele dia apenas o dr. Dilmar voltou pedalando sua bicicleta porque o Chico e seu filho atleta vieram de carona na carroceria de um caminhão. Não aguentaram o esforço e nem as repetidas cãibras em suas pernas.
O Chico ficou de molho uns três dias sem poder trabalhar e nunca mais provocou o dr. Dilmar. O outro ascensorista que todos gostam era o Amantino, que sempre jogava na Loteria Federal e dizia que um dia Deus iria apontar o dedo para sua cabeça para ele ser premiado.
Mas a intenção não era só esta, na verdade ele alardeava que depois de ficar milionário ele compraria o prédio do Tribunal só para ver os Magistrados trabalharem. Pois ele ficaria sentado numa poltrona de couro, dentro de uma sala envidraçada só pronto para “cortar” o ponto de quem não comparecesse para julgar. Ele até hoje não conseguiu seu objetivo.
E o terceiro ascensorista é o seu Modesto cujo nome traduz seu próprio comportamento. Um homem simples, digno e de educação esmerada.
É um servo de Deus. Dele não posso contar mais do isto, mas acho o suficiente para registrar seu nome neste espaço.
E como esses três personagens é importante salientar que no Quadro Geral de Funcionários do Tribunal de Justiça existem pessoas dedicadas e que trabalham com muita competência e valor.
E desta forma singela aproveitei das citações feitas pelo querido amigo e colega Robson Cury , para colocar um “plus” no seu importante e bem elaborado livro…
“A publicação de um livro que conta a “História do Poder Judiciário Paranaense” de autoria do des. Robson Marques Cury , faz perpetuar a trajetória daqueles que contribuíram para o prestígio da Toga na terra dos Pinheirais. E realça também o valor dos serventuários e funcionários da Justiça pela inestimável importância no desempenho de suas múltiplas tarefas.”
Édson Vidal Pinto