Um Longo Feriado
Ah, como era bom aquele tempo em que dormíamos com hora cronometrada e com o raiar das primeiras luzes de um novo dia pulávamos já atrasados da cama até o retorno para a mesma altas horas da noite, desmontados, com o corpo dolorido, morrendo de sono e sem muitos pesadelos. Foi uma época que não tínhamos muito tempo para sentar-se e nem divagar, dentro de um cenário frenético e de estresse quase que constante.
Você lembra daquele tempo? Lembra mesmo ou já esqueceu? Claro que sim pois foi antes da pandemia começar -, quando então para ocupar o mínimo de tempo que sobrava ainda podíamos ir a noite no cinema, no shopping, no teatro ou em uma pizzaria com os amigos. E quando tinha um feriado, então? A programação estava feita, planejada, revista, discutida e decidida bem antes da data pois a vontade era usufruir o tempo ocioso da melhor maneira possível e sem um minuto para pausa.
E quando o feriado acabava o cansaço físico era o mesmo de antes só o estado de espírito era diferente: tudo na expectativa de esperar o próximo dia útil de folga para curtir a vida. Meu Deus, como eram bons àqueles tempos, quanta conversa jogada fora, quantos churrascos, pescarias, cantorias e piadas repetitivas que sempre motivavam risos e maledicências paralelas. Pois é, tudo isto ficou no passado. Hoje o feriado por mais longo que seja não tem graça, o Covid-19 impôs o resguardo social, em outras palavras, permanecemos dentro de nossas casas muito mais tempo.
Quando não estamos no trabalho estamos em casa, quando não vamos ao supermercado, estamos em casa, quando não vamos a panificadora, estamos em casa, acabrunhados, assistindo filmes, lendo e isolados como uma ilha no meio do oceano. E hoje quando o feriado se aproxima nós nos sentimos sem ânimo, pois não sabemos o que fazer e nem para onde ir. Para as nossas praias teremos que usar máscaras para não sermos multados; em Guaratuba o mais injusto dos prefeitos que aumentou o IPTU nas alturas proibiu circular pela orla. Ora quem vai para a praia sem poder pelo menos colocar os pés na areia e na água do mar? E depois surge o medo: pô, se todos forem ao litoral haverá uma aglomeração de gente e para quem está na zona de risco isto não será nada bom. E de mais a mais ir até a praia para quê?
Ninguém está mais estressado e a viagem serviria apenas para mudar de ares, nada mais. Equivale dizer: ficar fechado na casa da praia ou num quarto de hotel. E o pior de tudo é gastar o rico e sofrido dinheirinho no lombo de uma espiral inflacionária galopante. Basta ver os preços dos gêneros alimentícios que os supermercados estão cobrando. Acho que momento é de prudência e muita calma. Então? Não dá saudades do passado não tão distante? Quando sair de casa para aproveitar o feriado era uma necessidade para fugir das loucuras do dia a dia e ninguém tinha tempo nem para pensar no custo de vida? Era um tempo bom e de irresponsabilidade total; mas com o ócio presente em todos os nossos dias, nos faz até pensar no bolso, que desgraça! Não parece, pois, que o feriado prolongado que inicia hoje perdeu a graça? Eu acho.
Mas não vou me abater e nem perder a fleugma. Nos próximos dias vou curtir nossa cidade que com certeza ficará quase às moscas como no período típico do nosso carnaval, para dar umas voltinhas de carro, usando máscara, vou rever o Novo Mundo, depois darei um pulinho no Alto da rua VX, passearei por Santa Felicidade, darei uma chegadinha no frente da Igreja de Santa Cândida e uma volta inteira pelo Hauer para daí, então, retornar para casa. Minha amada e querida casa, e cada dia que passar do feriado mais renovado e otimista para assistir mais um dos sete mil e duzentos e dois filmes que já assisti só neste período de pandemia, pela Netflix ...
“Acho que até a perspectiva da chegada do feriado prolongado, a Covid-19 nos fez mudar. Não temos mais a alegria de outrora. Descer para o litoral para os que estão cansados de descansar em casa, não soa como bom remédio. E sem poder andar pela orla e nem molhar os pés na água do mar, tendo a obrigação de usar máscara, é típico masoquismo leviano. O que fazer? Como agir? Eis a questão.”
Edson Vidal Pinto
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