Um Pulinho no Paraíso.
Como diz o cearense, acordei aperreado com a situação nacional, fui ao banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto, coloquei roupa de esporte e resolvi dar uma voltinha no Paraíso.
Fiquei esperando na estação tubo o ônibus que me levaria ao destino, tinha uma fila razoável, pessoas de varias idades.
Fiquei observando o que se passava ao meu redor. De repente e para surpresa geral chegou o Dr. Rosinha, distribuindo amostra grátis de remédios e pedindo voto para o Lula, o Osmar e a Gleisi.
Claro que a oferta por ser grátis atraiu o interesse de diversas pessoas, mas não senti muito entusiasmo com a proposta. Uma mulher não se conteve e disse:
- Eu sou Bolsonaro, Ratinho e Ney. Não voto em corruptos!
Foi o suficiente para o início de uma série de palavrões e empurra-empurra. Levei uma cotovelada no estômago e perdi o fôlego. A mulher logo foi defendida por algumas pessoas para não ser escorraçada para fora do tubo.
E começou um tumulto generalizado. Felizmente chegou o ônibus e eu consegui entrar e sentar no primeiro lugar vago do veículo. Fui o único passageiro que embarcou, pois os demais ficaram no ponto, discutindo e dizendo impropérios uns para os outros. Desconfiei que eles fossem para outro lugar, não para o Paraíso.
Tinha pouca gente no coletivo, no banco de trás deparei com duas freiras conversando:
- Irmã, São Gabriel devia ter sido um gato, quando era jovem...
- Ah! Irmã, eu ainda prefiro São João, que além de ser um pão, era o discípulo preferido do nosso marido.
Só então me dei conta que ambas eram casadas com Jesus. Achei melhor não interferir, porque em briga de família estranho não deve meter o bico. Fiquei pensando na briga que ficou para trás e dei graças a Deus por estar indo ao Paraíso.
Vi o ônibus se aproximar de outra estação tubo, que estava lotada, mas ninguém embarcou.
- Putz, como o Paraíso está desprestigiado - pensei com meus botões - ninguém mais se interessa pelo lugar?
E num outro ponto, o ônibus parou, e as duas freiras desceram.
- Pompas, até elas desistiram de ir ao Paraíso? O que será que está acontecendo? É inacreditável.
E o ônibus prosseguiu seu trajeto até chegar ao ponto final. Descemos num total de cinco pessoas.
Achei pouco, mas logo caí em mim, cada pessoa escolhe para onde quer chegar. Eu cheguei ao Paraíso!
- Bom dia, meu filho - era São Pedro que dava boas-vindas para quem desembarcava no local - quem veio para falar com Adão, sigam no caminho a sua direita; os que vieram conhecer a Eva, o caminho da esquerda; e àqueles que querem participar do comício do Lula, digam em frente!
Não! Não é possível, o Lula até aqui no Paraíso? Como pode? É por isto que todos evitavam chegar até este local. Agora, entendi. Sem escolher palavras perguntei indignado à São Pedro:
- Com todo o respeito, São Pedro, como pode o Lula estar fazendo comício aqui, no Paraíso?
- Fui iludido pelo José Dirceu; ele disse que seria uma palestra maravilhosa e que não custaria nem um centavo. E por ser gratuita, eu aceitei.
- Até o senhor São Pedro, caiu na lábia do Zé?
- Pois é, e agora não sei como posso expulsa-lo do Paraíso! Estou de mãos atadas...
- Só por que não tem outra Eva?
- Sim, meu filho. Só tem maçã...
Foi nesta parte da conversa, que o motorista do ônibus que ouvia atentamente, interferiu:
- São Pedro, o senhor já ouviu falar na tal da Gleisi?
- Sim...
- Pois é a chame até aqui, dê-lhe uma maçã e seu problema estará resolvido!
- Acha? - perguntou timidamente São Pedro.
- Com certeza absoluta - arrematei sem pestanejar.
Daí então optou em seguir o caminho que me levaria até o comício do Luiz Ignácio, pois eu não perderia por nada o que estaria para acontecer. Pois assistir a expulsão do Jararaca do Paraíso seria um deleite inimaginável ...
“O Lula é onipresente. Está em todos os lugares. É como vírus. Ele aparece onde ninguém espera. Imagine se ele não estivesse preso!”
Edson Vidal Pinto