Um Rei No Parque
Acordei com vontade de andar e respirar o ar puro do Parque Barigui que contemplo diariamente do meu apartamento mas não tenho coragem de frequentar por causa de minha inércia sabática, propósito que tenho mantido sob pacto de honra.
Nunca gostei de fazer exercício fisico e a única academia que frequento é do Hospital Costantini por obrigação médica, embora desde o final do ano passado esteja ausente por causa da angioplastia que fiz e ainda estou com indigesta alteração de pressão e sentindo tonturas.
Mas andar com moderação é recomendável daí minha ida ao parque. Para evitar excessos desci até a garagem e embarquei no meu poderoso Fiat 147 de cor laranjada, que faz inveja para qualquer dono de carro importado porque chama a atenção pela sua classe e textura dos seus bancos de chenile.
O motor pegou na décima nona vez que dei a partida porque é rápido ao ser acionado e o barulho é igualzinho de uma Ferrari. Tomei assento, mudei de marcha, segurei a direção e após dirigir por cinco quadras cheguei no parque.
Saí do carro como a Gata Borralheira saiu de sua carruagem de abóbora e comecei minha caminhada, claro que por ser terça-feira de Carnaval quem não foi para a praia estava se exercitando no local. Com minha preguiça de sempre e odiando a ideia de jerico que tive comecei andando em ritmo de bolero, bem lento como se estivesse deslizando na pista sem muito esforço para não suar.
Eis que de repente avistei uma figura conhecida pela sua obesidade, sentada sob a sombra de uma árvore e muito próximo de um bando de capivaras que povoa o Parque Barigui.
Foi então que deixei a trilha de caminhada e fui em sua direção, ele me olhou e eu então o cumprimentei:
- Bom dia, majestade!
Ele abriu um largo sorriso e respondeu:
- Bom dia.
Eu prossegui:
- O que o senhor está fazendo em Curitiba ?
- Meu caro, como sei que nesta cidade nunca teve Carnaval e que as festas estão suspensas em todo o país, resolvi passar uns dias por aqui mas por necessidade …
- Mas logo aqui ?
- ???
- Vossa Majestade sabe que aqui não existe Carnaval … - insisti.
- É por isso mesmo: não tem Carnaval mas tem gente folclórica que alegra qualquer um …
- Ah, entendo, Vossa Majestade deve estar muito triste e com razão.
- Sim, muito, muito triste.
- E veio no parque por quê?
- Ora, ora, não é aqui que costumeiramente caminha o tal Maria Louca ? - indagou preocupado.
- Sim, claro. - apressei em responder. - Vossa majestade quer desopilar o fígado e por isto quer conversar com ele ?
- Conversar e ouvir a sua plataforma de governo pois pelo que eu sei ele será o futuro governador…
- Quem lhe disse essa mentira ?
- Prognósticos da DataFolha - disse o rei.
- Tá, sem comentários.
- Será que ele vem hoje ? - perguntou.
- Não sei dizer …
- Eu preciso rir para compensar a ausência da folia de Carnaval, único momento em que sou verdadeiramente feliz. Mas a maldita covid roubou meu reino e me deixou depressivo.
Necessito ouvir alguém que me faça rir e me devolva a alegria de viver até o próximo carnaval.
- Mas, Vossa Majestade acha que o “candidato” é a pessoa certa para lhe devolver o estímulo de reinar ?
- Claro, principalmente quando ele recita a “Carta de Puebla”! É nesta hora que me parto de tanto rir.
- Tá, tá, se Vossa majestade acha que ele é o remédio para seus males vou torcer para que ele venha caminhar no parque …
- Obrigado, meu súdito!
Mas como não quero encontrar essa “peça” procurei deixar o rei sozinho e voltei para o trecho das caminhadas. Mas não pude parar de pensar na conversa que tive com aquele homem terrivelmente aflito, pois perdeu o carnaval o seu maior bem.
Sinceramente ? Torço para que o rei Momo encontre quem quer encontrar antes que resolva renunciar seu trono e acabar de vez com o carnaval. Não sou folião e nunca fui mas não tenho nada contra o carnaval, nem tenho razões para ver o rei Momo triste por não encontrar o homem de de seus sonhos …
“Nestes dias sem carnaval o Rei Momo deve estar desesperado porque seu reino foi surrupiado pelo vírus do Covid. Ele precisa de terapia. E em Curitiba tem a pessoa certa para os males do rei.”
Édson Vidal Pinto