Um Senhor Cidadão
Tem pessoas que na vida deixam um legado permanente de bons exemplos para muitas gerações e quando partem nunca são esquecidas, pois bons exemplos são sempre perenes. Lembro vagamente do Bento Munhoz da Rocha Neto um estadista festejado por todos que foi governador no Centenário da Emancipação Política do Estado do Paraná (1.853/1.953), pois na época eu tinha apenas oito anos de idade, mas guardo na memória a inauguração de Centro Cívico que contou com a presença do Presidente Getúlio Vargas.
Sei também que ele foi um político na acepção do termo. Já na minha adolescência testemunhei mais os feitos do inesquecível homem público Gal. Nei Aminthas de Barros Braga, aliás foi ele que me nomeou com catorze anos de idade para o Ofício Público e por várias vezes nos vários cargos que ocupou tive o privilégio de tê-lo encontrado, inclusive na sua residência quando estive na companhia de meu amigo Félix Fisher buscando seu imprescindível apoio e prestígio na campanha que este encetava pleiteando uma vaga no STJ.
E na hora ele telefonou para o Vice-Presidente da República Marco Maciel, ontem falecido, para ele articular junto ao Presidente o apoio necessário ao candidato do Paraná e obteve pronta concordância. Este era o Ney Braga um político que lembrava como poucos o nome de seus eleitores, sempre prestativo, dinâmico e administrador austero. Uma passagem que lembro bem foi quando Ministro do Trabalho participou de uma reunião promovida pelo então Prefeito Ivo Arzua e contou com a presença de inúmeros estudantes universitários e um dos quais era eu, uma plateia sequiosa para debater, criticar e opinar sem muita experiência.
E quando o ministro Nei Braga estava falando e contando as dificuldades que tinha para dirigir a Pasta e direcionar suas políticas públicas, de repente foi interrompido por um estudante mais afoito que lhe perguntou:
- Ministro, o senhor é o chefe: por que não parou máquina do seu Ministério para começar então a impor uma nova filosofia de trabalho?
O palestrante pensou um pouco e respondeu:
- Ah, não pense que é assim tão fácil como parece entrar na engrenagem da burocracia da Máquina Pública, não é mesmo…
Parou mais um pouco e explicou:
- Pensem agora que vocês estão no ponto de ônibus e todos vocês são Ministros de Estado esperando embarcar no ônibus de seus respectivos Ministérios.
De repente chega rapidamente o ônibus do ministério do qual você foi nomeado e para no ponto para você entrar e quando isto acontece ele parte em velocidade. E dentro dele aos trancos e solavancos você então tenta administrar o rumo que o veículo deve tomar, mas tem passageiros que atrapalham, transeuntes que tentam passar na frente e muitos políticos para atrapalhar. E quando você vê chegou a hora de desembarcar e você viu que nunca conseguiu parar o ônibus. Conclusão: a tarefa de governar não é fácil para ninguém!
Uma resposta que valeu uma boa lição e rendeu muitos aplausos da plateia. Creio que o saudoso General foi quem mais exerceu cargos relevantes na vida pública e nunca ninguém jamais ouviu comentário que desabonasse sua retidão no trato do dinheiro público. E como político nunca ostentou nada que pudesse distingui-lo como soberbo, rico ou prevalecido. Morou sempre na mesma casa e jamais deu as costas para um amigo.
Lembro que quando ele faleceu e seu guardamento foi realizado no Palácio Iguaçu e vi meu saudoso amigo dr. Lauro Rego Barros, que por duas vezes foi o seu Secretário de Estado da Educação, sair do prédio chorando copiosamente que tive de acompanhá-lo até onde estava estacionado seu veículo, triste e amargurado pela perda de um amigo e líder de todos os momentos.
E com certeza o Paraná chorou a morte de seu filho ilustre. E pensar que há poucos dias com a morte de Jaime Lerner, outro paranaense que deixou um legado público inestimável, a vida pública do estado perdeu ainda mais o seu brilho…
“Nei Braga, lapeano, militar, político e cidadão foi um exemplo de vida para ser lembrado e homenageado com honras de Chefe de Estado. Pena que a memória dos atuais políticos é curta e sem brilho. Mas com certeza ele ainda vive no coração dos bons paranaenses.”
Edson Luiz Vidal Pinto
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