Uma Geração Sem Fibra
Quem já tem 80 anos, ou muito mais ou um pouco menos, sabe que pertencemos a uma geração que aos poucos já vai deixando o cenário da existência. Em suma: já servimos o que poderíamos servir, presentemente, somos apenas testemunhas dos momentos que pertencem muito mais aos outros, do que há nós mesmos. Então, você já parou para fazer um balanço do seu protagonismo ao longo de sua vida? Não?! Se não fez, faça, só para você avaliar se contribuiu para melhorar o mundo, ou seu país, mas se for demais o seu estado, a sua cidade, a sua família ou seus filhos? Faça e ficará surpreso. Eu fiz e foi este o resultado. Nasci no dia que terminou a II Guerra Mundial, na minha família (como na maioria das outras) a obediência era matriarcal, minha mãe dominava desde que me conheci por gente impondo sua vontade na roupa que eu deveria vestir para sair de casa, ficava de olho com quem eu saia, ditava a hora que eu teria de retornar quando saia a noite para ir a uma festa, reclamava quando eu saia de casa e não me agasalhava, mandava eu fechar a porta que estava aberta atrás de mim, para que eu não ficasse com dor de garganta e recitava conhecida ladainha todas as vezes que saia com meus amigos. Na escola, ai, ai, ai se minhas notas não fossem no mínimo razoáveis, pois quando o meu pai ia assinar o boletim ela estalava os olhos, daí a bronca era feia. Minha irmã, sete anos de idade há mais do que eu, era meu escudo e proteção. Não sei se toda lapeana é braba, mas minha mãe era. Meu pai, antoninense (capelista) era tranquilo, nunca interferiu, foi excelente provedor e guardião da família. Só deixei mesmo o jugo de minha saudosa mãe quando deixei a casa paterna, aos 21 anos de idade, para residir no interior do estado. Quando comecei minha carrreira como Promotor de Justiça Substituto. Não, não é mentira não. Depois que casei (muitíssimo bem) e vieram os filhos, eu e minha mulher pensamos em dar para eles o mesmo tratamento que nós dois tivemos na casa de nossos pais, mas que nada, foi um lego engano. Não adiantava escolher a roupa para os dois meninos saírem, eles esperneavam e no final, vestiam como bem entendiam. É claro que ambos tinham horário certo para chegar em casa e sempre avisavam (pelo bip) quando se atrasavam um pouco. No mais nunca nos deram preocupações pois foram bom alunos e concluíram o curso superior por opções próprias. Gozaram desde a adolescência uma liberdade muito maior do que a minha, viajaram com amigos para o exterior e pelo país, com regalias e malandragens de seus próprios tempos. Portanto, nem eu e nem minha mulher impusermos nada do que nossas mães fizeram conosco, porém, graças a Deus eles hoje são ótimos cidadãos. E ao que parece, mudando os personagens e a casa, o mesmo deve ter acontecido com os outros pais de minha geração, os filhos foram criados com rédeas bem menos curtas, alguns, com excessiva liberdade e licenciosidade sem o mínimo freio. Será que estou errado nesta minha conclusão? Se não estiver, aí está a explicação do mundo estar de perna para o ar, pois a geração do qual pertenço não soube impor freios e nem exercer suficiente o princípio de autoridade paterna, daí, a efervescência social com mudanças de hábitos e de costumes que antes era o que dava sentido ao clã familiar. O mundo perdeu a graça, o ódio está contaminando tudo e todos, Deus está esquecido, o amor fraterno é raríssimo, as amizades são curtas e a moral é apenas letra morta. E tudo porquê minha geração foi dominada e não dominou, foi subjugada pelas minorias, e não passou de arremedo do foram os nossos pais…
“No jogo de palavras às vezes é possível ler e refletir sobre nós mesmos; sobre nossas atitudes e exemplos que vamos deixar como herança para as futuras gerações. Parece que não fomos bem sucedidos porque, pelo comodismo, aceitamos tudo e não refutamos nada. Daí, o mundo de hoje!”