Velhos Tempos
Todas as Instituições ao longo de suas histórias têm personagens inesquecíveis e emblemáticos, não apenas pelo caráter e trato com as pessoas, mas principalmente pelo zelo no cumprimento de suas obrigações profissionais. Na Polícia Civil do Paraná dentre tantos delegados que honraram e outros que ainda honram seus distintivos é difícil esquecer dos drs. Almir Vilela e Renato Ortolani de Souza. No Tribunal de Justiça tem nomes sempre lembrados como dos Des. Luiz Renato Pedroso, Henrique Lens César e Silva Wolff e tantos outros que marcaram com suas inteligências e amor a Justiça muitas gerações de Magistrados.
Também o mesmo acontece na Polícia Militar, no Magistério estadual, na Advocacia paranaense e demais campos de atividade que tiveram dentre seus componentes pessoas destacadas que contribuíram para escrever histórias ao longo do tempo deixando rastros profundos de suas lembranças , mas não tiveram a oportunidade de prestar depoimento para registrar às futuras gerações as suas próprias histórias de vida. Mas no Ministério Público do Paraná isto não ocorre porque a Instituição preserva sua memória e a biografia de seus agentes, através do setor denominado “Memorial do MP”, que conta com um acervo de fitas gravadas de entrevistas com diversas gerações de Promotores e Procuradores de Justiça.
Ontem ouvi e assisti uma entrevista feita em 1.991, quando eu então Procurador de Justiça e meu colega dr. Osman de Santa Cruz Arruda entrevistamos o saudoso Procurador de Justiça dr. Jerônimo de Albuquerque Maranhão, um personagem marcante daquela Instituição e um cidadão exemplar da sociedade paranaense. Tive que vencer a emoção quando vi sua imagem no vídeo e assisti toda a entrevista sorvendo suas palavras e embevecido com sua narrativa. Uma aula de vida pelos percalços da carreira e dificuldades sem comparação que era residir nas comarcas do interior do Paraná. Vou pinçar dois trechos de seu depoimento para retratar episódios de épocas.
Foi no ano de 1.952 que o dr. Jerônimo assumiu a Comarca de São João do Triunfo, uma cidadezinha localizada entre São Mateus do Sul e Palmeira, sem água encanada, luz e com poucas casas no lugar. O Juiz de Direito era o dr. Jorge Andriguetto que logo se tornou seu amigo inseparável e o ajudou até a chegada de d. Leonor, sua esposa. A população era arredia e muito simples, pobre e constituída de agricultores e madeireiros. Para quebrar a monotonia e despertar o povo do marasmo ele e o Juiz compraram uma máquina de cinema, em sociedade, e conseguiram em Curitiba que um representante de indústria cinematográfica mandasse noticiários e filmes para serem projetados naquela cidade.
O local escolhido foi a sede da paróquia da Igreja, uma construção improvisada, de madeira, que nos finais de semana reunia a comunidade. Como autoridades do local eles achavam que tinham de contribuir para melhorar a qualidade de vida da população. E d. Leonor que era professora de piano passou a lecionar música para quem se interessasse.
Esta foi sua passagem por São João do Triunfo. Comarca por onde atuei em 1.968, quando era Juiz de Direito o dr. Carlos Lunelles Marcondes, de saudosa memória. Outro lance de seu depoimento que achei interessante acorreu na Comarca de Araucária, onde então era Juiz de Direito o saudoso dr. José Virgílio Castello Branco, um homem culto e honrado.
Nesta cidade o dr. Jerônimo contou sua aventura política. Morava em uma ótima casa na cidade com a família e gostava do seu povo e do lugar, pois Araucária estava dentre as melhores Comarcas do interior. Certo dia recebeu em seu gabinete no fórum alguns dos principais presidentes de partidos políticos “exigindo” que se candidatasse a Vereador, garantindo sua eleição. Embora não fosse sua vontade acabou aceitando.
Filiou-se ao PTB e saiu candidato. A dita postulação não era bem assimilada no MP, tendo o então Procurador-Geral dr. Laerte Munhoz e o Secretário de Estado da Justiça dr. Rui Ferraz de Carvalho, viajado até Araucária para pedir que o dr. Jerônimo fosse prestar serviços no gabinete do Procurador-Geral e que largasse da política, porque esta não dava futuro.
E sem outra alternativa acabou seu sonho político e suas andanças pelas comarcas interioranas. Cada ser humano tem sua própria história de vida. Achei oportuno reproduzir estes episódios contados no “Memorial do MP” pelo dr. Jerônimo de Albuquerque Maranhão, por descrever fatos pitorescos que só a memória registra ...
“É bom recordar episódios que retratam uma época que poucos conheceram.
Quem fez carreira e teve que morar nas cidades do interior, sabe dar valor a sua profissão. O carreirista não sabe; muito menos o oportunista. Estes não têm vocação!”
Edson Vidal Pinto
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