Viajando de Corinthiana.
Meu Deus, nem eu acredito que publiquei duas mil crônicas diárias sem falhar um único dia, variando de temas e muitas vezes aproveitando para dar um toque de jocosidade nos acontecimentos do cotidiano.
Agradeço aos leitores a paciência de lerem meus textos escritos nas letras miúdas do meu aparelho de telefone celular e sem nenhuma correção, por não ser muito paciente, pois quando tento corrigir eu sempre modifico o que escrevi. Os professores da língua portuguesa devem morrer de rir com as minhas derrapadas ortográficas, com certeza uma fonte inesgotável de maus exemplos para aqueles que estão aprendendo a língua portuguesa. Peço mil perdões pelos pecados linguísticos.
Prometo daqui em diante piorar porque os meus olhos estão mais cansados e os erros ortográficos, de concordância e verbais serão ainda mais constantes. Nem o óculo está ajudando (desculpa esfarrapada!).
E quando penso no que vou escrever eu gosto quando as reminiscências do passado afloram em minha memória; sim, porque viajo mentalmente e ao mesmo tempo quero transportar os leitores mais jovens a vivenciarem uma época bem diferente dos dias atuais onde o conforto, a qualidade de vida e a tecnologia sequer engatinhavam. E aos mais idosos abro a oportunidade de recordar dos tempos que não voltam mais. Esta é a intenção que tenho ao escrever esta crônica.
No início da década de setenta imperava no Ministério Público do Paraná a ordem e a disciplina institucional; os Procuradores-Gerais e os Corregedores primavam para que os Promotores de Justiça morassem nas Comarcas e exigiam rigorosa observância no cumprimento das obrigações funcionais e institucionais. Ninguém poderia se ausentar da Promotoria da Comarca sem prévia autorização e quando em férias, cada um deveria comunicar (por telegrama) o retorno às atividades forenses.
Lembro que estava em gozo de férias com minha mulher e meu filho menor e para aproveitar um pouco mais a capital resolvi retornar para Siqueira Campos, onde eu era Promotor Titular, na manhã do dia que eu teria de comunicar que estava na Comarca. Só não contava com a chuva, pois a estrada até Ponta Grossa era asfaltada, mas dali em diante era de barro e macadame.
Com um Volkswagen, modelo sedan, iniciamos o trajeto de volta para casa (na verdade a cidade não tinha residência para alugar e tivemos que nos acomodar em um quarto de pensão de viajantes, que tinha no final do corredor dos quartos um único banheiro coletivo), sendo que até Ponta Grossa a viagem transcorreu normalmente e dali em diante a estrada era de chão batido. Com a lama no leito da estrada o carro derrapava e exigia redobrada atenção, a fim de não encalhar e nem bater na parte mais alta de terra que ficava dos dois lados da pista. Com dificuldades conseguimos passar pela cidade de Castro, mas guando chegamos em Jaguariaíva o trajeto ficou intransitável.
Fiquei desesperado porque eu tinha que chegar naquele dia em Siqueira Campos para mandar o telegrama de praxe. Jaguariaíva tem um entroncamento ferroviário onde residia um engenheiro-chefe e lembrei que ele era meu amigo, da família Mascarenhas. Fui procurá-lo no escritório da estação de trem e contei que precisava chegar em Siqueira Campos ainda naquela tarde e ele se prontificou colocar meu carro em um vagão ferroviário a fim de despacha-lo no dia seguinte para a estação daquela cidade. Respirei mais aliviado.
Em seguida fui até a delegacia de polícia conversar com o delegado e pedir uma carona com a viatura oficial até a minha Comarca. Naquela época a frota de veículos da polícia civil que servia as delegacias do interior era camioneta da marca Rural Willys, com tração nas quatro rodas, por ser a única capaz de enfrentar e percorrer as estradas do interior. O veículo policial era pintado de branco e preto e por isto levava o apelido de “Corinthiana”, as cores de um time de futebol de São Paulo.
E o delegado muito solícito prontamente atendeu o meu pedido e ele mesmo foi dirigindo a viatura até Siqueira Campos. Foi só assim que eu e minha família chegamos ao nosso destino. E antes da autoridade policial nos deixar na pensão ele passou na agência dos Correios e Telégrafos, onde cumpri meu minha obrigação de remeter um telegrama comunicando ao Procurador-Geral a minha assunção na Comarca. Daquela data em diante sempre retornei para a Comarca onde morava, um dia antes de terminar minhas férias. Aprendi no sufoco a lição de ser prudente e zeloso do meu dever funcional. O rigor institucional era assim, acredite quem quiser...
“Sem disciplina institucional os profissionais não aprendem os deveres funcionais que deve cumprir. E muito menos o zelo com que devem nortear suas ações, para não comprometer a respeitabilidade e a autoridade do cargo que exercem”.
Edson Vidal Pinto