Viajando no Tempo.
Hoje, 28 de março, terça feira.
Lembro como se fosse hoje a viagem de trem à Antonina, para visitar meu avô Gustavo Vidal Pinto. Eu deveria ter oito ou nove anos de idade e ficava exultante e excitado quando meu pai programava com antecedência descer serra abaixo.
Eu amava meu avô e talvez por isso tenha uma semelhança física com o mesmo, pelo menos na calvície e nos cabelos brancos ao lado das orelhas. No dia do embarque meu pai, minha mãe, minha irmã e eu chegávamos à estação ferroviária de Curitiba bem cedo, pois o trem partia rigorosamente as 07h00min. Devidamente acomodados no vagão da 1a classe, eu me posicionava na janela para assistir o ritual da partida.
O tradicional relógio redondo pendurado no teto da estação ditava o momento da saída, pois quando os ponteiros marcavam o horário exato da saída, o Chefe da Estação com seu uniforme de cor azul e quepe branco, com as iniciais bordadas em fio dourado com as iniciais "RVPSC" bem no centro Superior da aba frontal, dava três apitos e o maquinista da "Maria Fumaça" logo respondia com outros três longos apitos da máquina e esta iniciava seu preguiçoso movimento, rangendo as rodas sobre os trilhos, no sonoro som de café-com-pão-café-com-pão-café com o balanço sem parar dos vagões.
A viagem demorava quatro horas e meia pelo percurso inesquecível e inóspito da Serra do Mar com suas estações de paradas, o véu da noiva, o Marumbi, o Viaduto Carvalho até chegar à estação de Morretes, onde existia uma bifurcação das linhas, de um lado se dirigia à Antonina e para o outro o destino era Paranaguá. Como eram vários vagões de passageiros e cargas a composição era fracionada e obedecia ao fim a que se destinavam.
Enquanto era feita a divisão dos vagões os passageiros desciam na estação, porque a manobra levava uns vinte minutos. Na plataforma tinha as frutas típicas do litoral: mimosa, goiaba, carambola, banana e jabuticaba. Também não faltava palmito, rapadura, bala de banana, caldo de cana de açúcar e para atiçar o imaginário das crianças brinquedos de madeira.
Dentre estes o principal era a canoa de pescador com dois bancos, tal qual uma de verdade. Primeiro encostava-se à plataforma o trem para Paranaguá e logo após a sua saída o de Antonina. Dentro deste meu coração batia com mais força porque eu estava próximo do meu avô paterno, figura de terna bondade e Kardecista convicto.
Quando o trem se aproximava da estação de Antonina meu saudoso pai abria a janela do vagão e me segura para eu enxergar a plataforma e quando deparava bem na frente dela com meu avô, este me puxava para fora da janela e me envolvia em seus braços. Ah! Que alegria e felicidade eu sentia naquele momento em que nós nos beijávamos! Meu Deus, quantas saudades...