Vida de Advogado
Tarde sombria, chuvosa e preguiçosa. Olho da varanda do meu apartamento para o Parque Barigui e não vejo o movimento de pessoas e nem de automóveis. Cenário típico de uma tarde em que as pessoas resolvem ficar em casa. Eu sou uma delas. minutos atrás recebi um telefonema de um jovem amigo, que foi meu assessor na desembargadoria e que hoje é um ilustre professor de Direito, dentre o que conversamos ele me fez uma pergunta : " Quando é que eu vou começar a advogar" ?
Tudo porque estou na quarentena imposta pela Lei que veda o Magistrado aposentado de exercer a advocacia nos três primeiros anos de inatividade. Tecnicamente estou cumprindo o período de vedação legal. Mesmo assim, respondi com muita segurança e tranquilidade que a advocacia não faz parte dos meus planos. É verdade. Tenho pelos Advogados o maior respeito profissional porque são eles verdadeiros representantes do que melhor existe na sociedade, pois são valentes, destemidos e idealistas que buscam legitimamente movimentar a pesada engrenagem da Justiça.
Claro que me refiro especificamente àqueles que são profissionais liberais da advocacia e fazem desta um apostolado de vida. Tenho orgulho de meu filho mais velho por ter optado por exercer tão sagrado ofício, intenção que demonstrou desde que cursava os bancos da Universidade. Vocação diferente da minha, eu pensava sempre em ser Promotor de Justiça ou Juiz de Direito. E por realização pessoal tive o especial privilégio de me realizar profissionalmente dentro de ambas as carreiras. E por que não advogar? Porque não faz parte de meu ideal de vida. Tendo me formado com 21 anos de idade e iniciado minha vida de Promotor com 22 anos, aprendi desde cedo a moldar minha tempera e formação como agente público. Não tenho pendores e nem jeito para a advocacia.
Hoje, para fugir de ociosidade da aposentadoria dedico grande parte de meu tempo escrevendo e lendo. Também sou voluntário como mediador do Núcleo de Conciliação do Poder Judiciário. E a partir do ano que vem, atendendo honroso convite do ex-governador Mario Pereira, vou compor o Conselho Político da Associação Comercial do Paraná. Porém, advogar não! Deixo a advocacia para àqueles que têm ideal é pendores para exercer tão nobre profissão. Continuarei sendo um desembargador aposentado, até o fim de minha vida, Independentemente de outros encargos que eventualmente possa assumir.
Olho pela janela e vejo que a chuva parou e surgiram algumas réstias de sol. minhas elucubrações chegaram ao fim. Mas não o meu respeito pelos Advogados, pelo trabalho que exercem e pela combatividade que simbolizam. Todos eles indispensáveis para o exercício do verdadeiro estado democrático de direito.