Vida no Cárcere.
Depois de muito custo, idas e vindas, o Lula foi preso. Ao invés de uma cela isolada dentro de uma Penitenciária do Estado, coube-lhe por especial deferência de ex-chefe da Nação, ficar hospedado em uma sala, com privada privativa, uma cama de solteiro, uma mesa e uma cadeira, dentro do prédio da Polícia Federal.
Imóvel que inaugurara quando Presidente da República. Depois de um dia de muito agito, missa de corpo presente, despedidas, juras de amor eterna, café, golinhos da purinha, choro, abraços calorosos, viagem de avião, chegada à República de Curitiba, acolhida dos coxinhas, gozações, foguetes, mudança de roupa, veio o silêncio da cela improvisada. Nem uma viva alma para conversar.
Silêncio sepulcral. Viu em cima da mesa um bloco de papel e um lápis. Ficou tempo com lápis nas mãos sem saber sua utilidade, usou do mesmo para coçar os ouvidos, depois enfiou nas narinas, até que encostou a sua ponta no papel e lembrou para que servisse. Desenhou uma casa, um sol, um navio, uma árvore e cansou. Largou o lápis e deitou na cama. Tinha jantado às seis da tarde, meia hora atrás; embora o quarto não tivesse janela, a única porta dava para um corredor, suficiente para ver de uma portinhola gradeada e esculpida no meio da porta , uma réstia natural de luz. Putz pensou, ainda nem escureceu.
Como matar o tédio? Teve a inusitada ideia de escrever um diário, imaginou que talvez servisse para um registro histórico, assim como o “Diário de Anne Frank”. Com certeza o mundo todo gostaria de ler um dia, para sentir de perto a saga de um inocente. Seria inédito: nem o Mandella escreveu sobre sua prisão. Motivado, levantou da cama, sentou na cadeira, pegou o lápis e começou a escrever no bloco sobre a mesa: “Querido diário. Tô na pior. O Moro me sacaneou de vez. Tô de uniforme laranja, tipo pijama, lembro-me das galegas, dos dólares, da “branquinha” e choro.
Não sei nem fazer aviãozinho de papel para lembrar dos bons tempos. Onde está a Gleisi? O MST? a CUT? O Requião que sumiu? O Osmar que eu tanto ajudei? E o que dizer do Samek, aquele aproveitador filho de uma figa? O dr. Rosinha é fraco, não conto com ele. Estou &@$!/$! E nada do maldito sono chegar. Cidade insuportável.
Acho que vou gritar. Prá quem? Pro FHC? Maduro? Evo? Temer? Tô frito, sozinho e sem sono! Mas cansei de escrever por hoje. Paro por aqui, minha cabeça está fervendo. Vou na privada, meu estômago está embolado. Acho que foi o caldo de feijão que me deram no jantar. Comi cinco pratos cheios. Parece que vou estourar.
Fico por aqui. Tchau!”. Não tenho visão noturna e, portanto não sei bem o que aconteceu depois do Jararaca ter se despedido. Acho que não deve ter sido a sua melhor noite. O que vai acontecer entre quatro paredes e uma privada? Quanto tempo o Lula vai permanecer na PF? Bem que o Moro poderia transferir o seu preso favorito para a Penitenciária de Piraquara, para ele sentir de perto o friozinho da região.
Enquanto nada acontecer, de vez em quando, daremos uma “espiada” no esboço do futuro livro escrita pelo sofrido encarcerado. É sempre bom ler as suas besteiras, pode ser que futuramente ele até ganhe o Nobel de Literatura. Do jeito que o mundo caminha tudo é possível. Se homem tem marido e mulher tem esposa, não custa muito para o Lula chegar a ser um William Shakespeare brasileiro. Infelizmente, com o caminhar da carruagem, tudo é possível...
“Enfim, preso! O povo trabalhador e ordeiro está se beliscando, ninguém ainda acredita. Parece que a impunidade acabou. Viva o Estado Democrático de Direito!”
Edson Vidal Pinto