Xô, Crise!
Em tempo de pandemia onde o sobressalto é geral, pois todos os dias pensamos o que poderá acontecer amanhã, tal o momento de tensão e suspense que estamos passando. As preocupações se multiplicaram e fizeram mudar radicalmente o modo de viver de todos nós, sem exceção. O uso da máscara por exemplo: quando assistíamos os chineses e japoneses usando as mesmas por causa da poluição de suas cidades, nunca imaginamos que um dia tivéssemos que usar tal acessório desconfortável para nos precaver de um vírus mortal.
Também a reclusão social foi uma inovação em nossos hábitos que acabou mudando nossos costumes -, nossos filhos e suas famílias ficaram distantes, perdemos a convivência com nossos parentes, nossos amigos e vivemos acuados. Sem falar das perdas econômicas decorrente das ausências dos consumidores no dia a a dia na vida da indústria e do comércio em geral. As atividades dos prestadores de serviços diminuíram e comprometeram as rendas de seus empreendedores. Tudo motivo para cabeça cheia, mil preocupações, impaciências e explosões emocionais. Quadro negativo que precisa de uma boa sacudida para mudar o astral.
E graças a manicure de minha mulher que atende nas residências fazendo as unhas dos pés, das mãos e corte de cabelos, inclusive masculino, que fez do trabalho disciplinado um modo próspero de vencer as dificuldades, que me motivou a alinhavar esta minha escrita diária. Moça simples, uma polaquinha tipo mignonzinha, baixinha, miudinha, com voz estridente, oriunda do interior do município de Irati, deixou a casa dos pais e a lavoura para trás e veio trabalhar em Curitiba. Fez curso no Senac, onde aprendeu sua profissão, e começou a trabalhar no ramo escolhido.
Indo de casa em casa angariou uma clientela fiel, econômica nos gastos, comprou, depois de quatro anos, pagamento à vista, o apartamento que alugara. Matriculou-se na Faculdade de Contabilidade da FAE, e quando começou a namorar um motorista de ônibus, obrigou o mesmo a fazer o mesmo. Passaram a conviver juntos como “namoridos” e, assim, concluíram o curso superior. Com esforço ela comprou um carro que facilitou muito o seu deslocamento pela cidade e propiciou aumentar o rol de novos cliente; ele adquiriu uma motocicleta. Compras pagas à vista. Foi eleita síndica do prédio onde reside e com dinamismo conseguiu remodelar e valorizar o condomínio, tendo recebido propostas para administrar outros três prédios.
Mas não aceitou porque precisa de tempo para estudar com o namorado, pois ambos pretendem se inscrever no primeiro concurso público que abrir, depois da pandemia. Nos dias mais difíceis ela sobreviveu das suas economias. Ontem ela veio atender minha mulher e cortar o cabelo que me resta. Eu gosto da sua conversa e da clareza como se expressa para atingir seus objetivos. Tem períodos que começa a trabalhar das oito até as vinte e uma horas, sem esmorecimento e com gana de vencedora. Num trecho de nossa conversa eu perguntei:
- Eliane, alguma novidade?
- Ah, o senhor sabe, estou aprendendo a jogar na Bolsa ...
- Mesmo? E daí?
- Já ganhei um dinheirinho, só que é muito arriscado.
- Sim, não pode ser um dinheiro que você vai precisar.
- Verdade. Não dá para comprometer o básico e o necessário! - concluiu.
E quando ela saiu para se dirigir até a casa de outros clientes, eu fiquei pensando no valor daquela moça, lutadora e com a cabeça no lugar que com certeza não conhece crise nenhuma. Taí a melhor fórmula para vencer e sair da paúra do Covid: empreender, buscar com o trabalho uma maneira de dar a volta por cima e transpor as preocupações. Só nao dá para parar, nem perder o ânimo e a esperança. Vamos olhar para frente e dar o primeiro passo, acreditar e suar porque sem esforço e garra ninguém chega a lugar nenhum ...
“Não será uma crise com reflexos econômicos negativos que irá nos derrotar. Deus nos deu a inteligência e o livre discernimento para buscar vencer na vida. Nada é fácil, porém nada é impossível. O momento exige gana, suor e luta. Vamos pois, combater o melhor dos combates!”
Edson Vidal Pinto
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