Mineiro de Botas
Na coluna de hoje, vou escrever sobre um local que comecei a frequentar desde pequeno (com meu avô), e até hoje é a primeira opção de parada para um “lanchinho” na volta para casa, após meus inúmeros compromissos noturnos (sic)....
Foi um italiano radicado na Argentina, Adolfo Bianchi (1880-1947), que, ao se estabelecer em Curitiba deu origem ao Churrasco Palácio em 1930. Nesta época, com o nome de Bar, Café e Restaurante Palácio, localizava-se na Rua da Liberdade – atual Barão do Rio Branco – ao lado do atual Centro de Convenções (ex-Cine Vitória), em frente ao Palácio do Governo do Estado, que inspirou o nome do bar.
É considerado um dos restaurantes mais antigos e tradicionais de Curitiba. Prova disso é que existem livros e até dissertação de mestrado sobre o lugar. Impressionante, não?
Durante muitos anos ele funcionou até às 7h30 da manhã, por isso era comum encontrar senhoras e senhores muito bem arrumados vindos de teatros e outras festividades, sentados ao lado de pessoas comuns que trabalhavam à noite.
Falou-se que, durante muito tempo, só entravam mulheres acompanhadas por homens, para evitar que o restaurante fosse frequentado por moças de "vida fácil", que queriam entrar no bar por motivos não-gastronômicos. Em 1984, um grupo de feministas baixou lá com imprensa e polícia motivadas por esse folclore. Resultado: um processo que foi ganho pelo Bar e ampla divulgação nos meios de comunicação, o que fez que todas as mulheres da cidade tivessem curiosidade em conhecer o local. Até pareceu jogada de marketing, mas não foi.
O local é bem simples e boêmio, com um estreito salão, mesas de fórmica e sem toalhas. Como decoração, muitas fotos, recortes de jornal e prêmios. É acolhedor e despretensioso, totalmente SEM FRESCURA como gostamos.
Dentre os inúmeros pratos que fizeram a fama do Bar Palácio está o Frango a Crapudine, que é o frango inteiro, aberto na horizontal, temperado e assado com borrifos de vinagrete, sal e alho. Após assado, o frango vem à mesa aos pedaços.
Entre os mais pedidos, e o meu favorito, está o Mignon à Griset (preparado na manteiga, ladeado por ervilhas), acompanhado das batatinhas redondas e miúdas, farofa de ovo (a melhor do mundo) e arroz.
Há os pratos do dia também, entre eles rabada, dobradinha, cabrito assado e uma variedade de preparos do filé mignon. Muito pedido também, o famoso Churrasco Paranaense, servido com arroz, farofa e salada de cebola.
Dentre várias histórias contadas a respeito do Bar Palácio, transcrevo uma que li no livro HISTORIA DOS BARES E RESTAURANTES DE CURITIBA.
Além da comida, outro elemento vem à lembrança quando se fala do Bar Palácio...a “fumaça”...
Antigos frequentadores, contam que o cheiro da churrasqueira invadia o restaurante, e, que era utilizada também, para livrar a cara de alguns boêmios. O jogador de futebol Barcímio Sicupira, conta que estava um dia no Palácio, sentado ao lado de uma mesa com um grupo de funcionários do serviço público. De repente, chegou mais um deles, que deveria estar jantando com os demais. Passou direto pela mesa e foi até a churrasqueira, abriu o paletó e ficou bem perto da fumaça. Quando perguntaram o que ele estava fazendo, o esperto disse que “estava pegando um cheirinho de churrasco”, pois dali a pouco precisava estar em casa.
A única certeza que tenho quando vou ao Bar Palácio, é que depois de todas as refeições que faço, vou desfrutar da melhor sobremesa servida em Curitiba, O MINEIRO DE BOTAS.
A sobremesa, que vem pegando fogo, é uma mistura de bananas, queijo e goiabada. Tudo isso coberto com açúcar e flambado com rum. Elogiada nada mais, nada menos do que pelo diretor de cinema Francis Ford Copolla e por Chico Buarque.
De origem carioca, isso mesmo carioca, o MINEIRO DE BOTAS tornou-se um patrimônio do Bar Palácio ao longo destes 86 anos de existência.
Bem, é isso aí, se você preferir fazer em casa, esta deliciosa sobremesa, anote a receita:
- 01 colher (sopa) margarina sem sal
- 02 bananas caturra (nanicas) cortadas em rodelas
- 02 fatias grossas de queijo prato cortado em cubinhos
- 02 fatias grossas de goiabada cortada em cubinhos
- Açúcar para polvilhar
- 1/2 cálice rum (ou conhaque) para flambar
Derreta a margarina numa frigideira grande e frite as bananas. Acrescente a goiabada, deixe amolecer um pouco, junte os cubinhos de queijo até derreter.
Polvilhe com o açúcar.
Aqueça o conhaque (ou rum) numa concha de alumínio diretamente no fogo e despeje sobre o prato, flambando-o.
Está pronto!
Façam em casa, e depois compararem com a VERSÃO ORIGINAL no tradicional Bar Palácio, claro, após um delicioso mignon ou um Churrasco Paranaense.
Lembrem-se, minha dica é uma só, naqueles botecos que tiverem a possibilidade, façam como eu, peçam NO BALCÃO SEM FRESCURA....
#fui
Bar Palácio
Rua André de Barros, 500 – Centro
Fone: (41) 3222-3626