A Flip pelo olhar da escritora paranaense Etel Frota
“Um catálogo da diversidade”. Assim, a escritora paranaense Etel Frota definiu a 15ª Flip. No dia 30 de julho, no espaço Casa Santa Rita da Cássia da Festa Literária Internacional de Paraty, ela lançou seu primeiro romance “O Herói Provisório”, editado pela Travessa dos Editores. A autora conta que andar pelas ruas de Paraty, durante os dias da Flip, foi percorrer um roteiro do ativismo. “Falo do ponto de vista de quem fez um percurso muito peculiar que, na maior parte do tempo, passou longe da Igreja e da Praça da Matriz, palco e telão da programação oficial”, assinala. O livro ainda será lançado na Flibonito – Feira Literária de Bonito (MS), que acontece entre 16 e 19 de agosto; e em Curitiba, no dia 30 de agosto, na Livraria da Vila, no Pátio Batel.
Acompanhada da escritora Adriana Sydor, responsável pela editoração de “O Herói Provisório”, e que também lançou seu livro “Salve o Compositor Popular”, Etel assinalou as mudanças feitas nesta edição da Flip. “Foram surpreendentes. O palco principal foi para a Igreja Matriz, e o espaço do telão, aberto e gratuito, para a Praça da Matriz. O Areal do Pontal, espaço que tradicionalmente concentrava a área vip da festa, desta vez, foi ocupado por uma ‘sucursal’ do Museu da Língua Portuguesa, a tenda da Agenda 21 e a Feira de Economia Solidária com rodas de conversa, bibliotecas comunitárias, artesãos e seus produtos, música regional e culinária local”, descreve. “Segundo nos ensinaram, uma Parati popular e periférica pela primeira vez se fazia ouvir pela Paraty culta e cosmopolita. Alegria, arte sem contrato, cor, militância”, sublinha.
Etel brinca que foi uma das poucas pessoas que não viu, abraçou ou fez selfie com o ator Lázaro Ramos. Ele lançou o livro “Na Minha Pele”, e fez uma performance na abertura, com textos de escritor Lima Barreto, o grande homenageado desta edição da festa literária. A autora lamenta por não ter acompanhado o lançamento de “Grandes Crimes”, coletânea da qual participa Eduardo Muylaert. “Assistimos à conversa entre Maria Valéria Rezende, uma das mentoras do grupo “Mulherio das Letras” e Luaty Beirão, rapper angolano, e uma ótima mesa sobre “Autoficção”, com os autores Marcelo Maluf (“A Imensidão Íntima dos Carneiros”) e Jacques Fux (“Meshugá”)”.
“Desoladas, eu e a Adriana, perdemos as duas chances que tivemos de ver José Eduardo Agualusa ler trechos de “A Sociedade dos Sonhadores Involuntários”, livro de sua autoria”. Tampouco testemunharam o depoimento contundente da professora Diva Guimarães, de Uraí (PR), em uma mesa redonda sobre racismo. “Soubemos que ela emocionou a todos ao falar sobre o sofrimento que passou por ser negra e como sobreviveu a tanto preconceito”, conta Etel.
No domingo (30), foi a vez de “O Herói Provisório” pisar o outro lado da ponte, lembra Etel. “Na Casa Santa Rita da Cássia participamos do “Lançamentão”, em que conhecemos e compartilhamos impressões, livros e cervejas com outros nove autores, sob os auspícios da anfitriã Cássia Carrenho”, relata a autora. “Desse rio caudaloso que foi a Flip, bebemos pouco mais que uma gota. Na bagagem de volta, a alegria de termos estado lá, novos livros para ler, o gostinho de cravo e canela da cachaça local e a certeza de que para “O Herói Provisório” foi o primeiro passo de uma estrada comprida ainda a cumprir”, escreve.
O Herói Provisório
O livro é ambientado em Paranaguá (PR), com passagens pelo Rio de Janeiro, Cunha (SP) e Lisboa (Portugal). O pano de fundo da obra de ficção de Etel é um episódio que ocorreu em 1850, quando os canhões da Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, na Ilha do Mel, abriram fogo contra um cruzador inglês, que rebocava três navios brasileiros, supostamente negreiros.
O personagem-título, militar Joaquim Barboza, transita pelo livro com Frei Tristão de Almeida, a escrava Ignácia, a senhora Eulália, o comendador Manoel Guimarães, o poeta Manoel da Fonseca, a enfermeira Maria Rocha, o médico Carlos Thobias e o historiador Antonio Vieira dos Santos.
Editado pela Travessa dos Editores, de Curitiba, a imagem da cabeça decepada de Mercúrio, fotografada por Alan Romero, no convento de São Domingos de Benfica, em Lisboa, ilustra a capa do romance, criada pela designer Clarissa Menini.
Sobre a autora – Etel Frota nasceu em 1952, em Cornélio Procópio (PR), e desde 1980 vive em Curitiba. Licenciada em Ciências e formada em medicina, desde 1998, trabalha exclusivamente como escritora: poeta, roteirista, letrista, com algumas incursões na dramaturgia. Várias indicações e premiações em importantes prêmios de música e teatro.
Em 2002 lançou "Artigo Oitavo", livro+CD de poesia escrita, falada e cantada, com prefácio de Thiago de Mello e produção musical de Rodolfo Stroeter. Sua produção como letrista abrange uma enorme gama de gêneros e parcerias musicais - Iso Fischer, Rosi Greca, Zé Rodrix, Grupo Viola Quebrada, entre dezenas de outros. Uma significativa parte dessa produção de canções está reunida no livro virtual “Lyricas – a construção da canção”, lançado em janeiro de 2007.
Desde 2009, vem trabalhando como letrista em parcerias internacionais com os suecos Miriam Aïda, Måns Mernsten e Mats Ingvarsson, e com o finlandês Simo Naapuri. Importantes intérpretes da cena paranaense e brasileira têm gravado suas canções - Nasi, Ana Cascardo, Maria Bethânia, entre muitos outros. Destaque para o CD "Flor de Dor - Tao do Trio canta Etel Frota", lançado em 2016. Por este trabalho, a letrista recebeu o ‘Prêmio Grão de Música 2016’, e o grupo vocal curitibano foi indicado ao 28º Prêmio da Música Brasileira.
Etel é colaboradora da Folha de S. Paulo.
Seu livro “Artigo oitavo - poesia escrita, falada e cantada” inspirou o roteiro da peça “Penélope Pelo Avesso”, da companhia curitibana Comparsaria Cênica, que acabou de cumprir sua terceira temporada em Curitiba. Recentemente, publicou três poesias na antologia “Blasfêmeas: Mulheres de Palavra” (Editora Casa Verde), com mais 63 escritoras brasileiras da cena contemporânea.
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