AlendaSz apresenta novo disco, “Sonhadores na Zona da Morte”, e traz diversidade sonora alinhada ao rap
Com 16 faixas e beats de DJ Felipe e Laraapio, da Produtora Bueiro75, o lançamento aconteceu no dia 13 de maio
O disco “Sonhadores na Zona da Morte”, novo projeto do artista baiano AlendaSz, traz uma sonoridade diversa, com o pagode baiano, samba reggae, arrocha, afrobeat, tudo isso alinhado ao rap. Os instrumentais são de DJ Felipe, nas músicas “Agonia” e “SNZDM” e nas demais, de Laraapio, da Produtora Bueiro75. Com um total de 16 faixas, a arte da capa é de Marcos Silva e as fotos de Edson Andrade. O lançamento aconteceu no dia 13 de maio, em todas as plataformas de streaming.
Quatro músicas serão lançadas em formato de lyric video no YouTube, são elas: “Oração”, “Vida à Fio”, “Envolvido” e “Agonia”, com material criado por Leandro Auleo. O clipe da música “My Baby”, carro chefe do projeto, está previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano.
Sonhadores na Zona da Morte
SNZDM aborda as diversas formas de existir, pontua os sonhos e adversidades de ser preto e periférico. Mostra que não é apenas sobre a morte, dor, perda, ausência e ódio. O projeto vai contra os estereótipos impostos pela sociedade e revela uma demanda nesse circuito de sonhar e se manter vivo, é um chamado sonoro para a ação do povo preto.
Nas situações e abismos, vividos por pessoas pretas, também são identificáveis os sorrisos, as danças, a labuta, as criações, invenções, os sonhos. A ideia do álbum, de acordo com o artista, é convocar novos olhares, não apenas sobre esse lugares, onde morto/vivo, já não é mais uma brincadeira e sim, uma categoria analítica que enquadra várias pessoas socialmente mortas.
O mergulho de Lázaro de Souza Barbosa, nome de batismo de AlendaSz, neste universo, se deu por causa de suas vivências. Com os filtros sonoros da Bahia, SNZDM é um projeto diversificado sobre o sonhar em meio a um permanente campo minado, e busca cavar espaços para novos públicos no estado, como por exemplo, as mães, as tias, pessoas que aparentemente não se conectaram ao rap, pelos vários estereótipos e histórias únicas sobre ele.
“O nome do disco combina morte e sonho, na tentativa de falar das nossas coexistências, sobrevivências e, ao mesmo tempo, das criações que lá se fazem, das invenções culturais, afinal, é o que muito produzimos na Zona da Morte, apesar dos olhares, só querem ver por lá a morte e, com isso, apagar os sonhos. O disco e seu nome também é sobre o rap e sua desobrigação em termos de falar da gente, mas só de um ângulo, o da dor”, conta.
Zonas
O álbum seria dividido em zonas, sendo cada uma delas com uma identidade sonora específica. No entanto, Lázaro decidiu fazer uma mesclagem entre músicas dançantes, boombap mais cru e outras, na pegada love song.
Falar das divisões estabelecidas no disco, também é falar sobre o cenário fonográfico e suas lógicas de consumo. No atual contexto, dentro do music business, onde a vendagem de singles, EPS, Mix e Microtape é algo comum, segundo ele, lançar um disco com 16 faixas é quase um crime.
“No interior da Bahia, pior! No meu caso, sendo do Rap e de um percurso ainda em início, se torna como algo muito “ruim” rsrsrs. Pensamos nessa estratégia em sintonia com esse contexto. Como fazer com que as pessoas escutem o disco, já que ele é de suma importância na sua totalidade e sobretudo na sua diversidade? A ideia foi tentar dividir e distribuir de modo que as pessoas tivessem a oportunidade de ouvir faixa a faixa”.
Participações
As participações no disco são de Laraapio, na música “Sonhadores” e Nerby Nas, em “Subterraneo”. Laraapio cedeu seus instrumentais, além de fazer a mixagem do disco. Ele acredita que SNZDM foi, em muitos aspectos, uma jornada de autoconhecimento e desafios na sua vida pessoal e profissional. O projeto possui beats de cinco anos atrás, quando o ele iniciava na área, além de trazer trabalhos mais maduros.
“O disco me afrontou pela sua robustez, diversidade e complexidade na lírica de AlendaSz. Foi um desafio estético para mim e para a equipe que participou da produção. Bebemos de todas as paixões musicais possíveis para nós e para o público. Nos últimos anos, jogamos na rua misturas que povoavam a nossa cabeça desde o início da carreira e apostamos em experimentar com o que nos emociona localmente. Têm beats de arrocha, com elementos do reggae e explosão de pagode, tem música que é só voz, tem voz e violão no meio de um álbum de rap, tem o afrobeat que é uma influência forte de algumas presenças da Guiné em nossas vidas, apostamos algumas fichas”, justificou.
Contos Sonhadores na Zona da Morte
AlendaSz escreveu cinco Zonas em formato de contos, que possuem a temática e conceito do disco, é uma expansão numa perspectiva literária e aprofundam elementos chaves da cultura hip-hop. Segundo o artista, esses escritos apontam para as múltiplas experiências que aquecem e formam as geografias da Morte negra na Bahia e seu interior.
“O rap é um campo literário potente e, por isso, a necessidade da sua leitura e não só escuta. Compreendo que escrever na Zona da Morte é um ofício facilmente sufocado, estrangulado, mas, fortemente espalhado, ainda que pouco reconhecido e estimulado. Temos publicações fincadas na alma, nas perdas, nas noites de luto e dias de luta. Os contos Sonhadores se encontram nesse mundo, criando e cultivando brechas que façam avançar a leitura e a literatura como armas indispensáveis na Zona da Morte”, finaliza.
Os contos estão disponíveis no site do artista. Para acessar, clique no link: https://bit.ly/3fcnChH.
Sobre
Nascido em 1996, em Anguera, Feira de Santana (BA), Lázaro de Souza Barbosa, vulgo “AlendaSz”, vive o rap desde a infância, assim como com o samba, o arrocha e variadas outras marcas da música preta. É professor de história, licenciado pela UEFS. Fez parte do Coletivo Us Pior da Turma, de projetos educacionais e comunitários, que se estendiam do teatro ao cinema de rua, organização de sons, debates sobre moradia popular, racismo e segurança pública. Foi premiado na 8ª edição do Calendário das Artes, da Funceb, em 2020, com o projeto “Literatura e Composição Musical”. No mesmo ano, foi premiado pela Funart, com o projeto “Na Laje da Literatura e do Rap”. Teve a música “My Baby”, que integra o disco “Sonhadores na Zona da Morte” como a segunda mais votada na 18ª edição do Festival da Educadora FM.
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