Pesquisadores descobrem 12 novas esponjas calcárias em ilhas oceânicas
Mesmo sendo um dos animais vivos mais antigos do planeta, ainda há espécies de esponjas calcárias desconhecidas. Uma recente pesquisa publicada na revista científica Zootaxa apresenta a descoberta de doze novas espécies para a ciência, provenientes do Arquipélago de Abrolhos e de quatro das cinco ilhas oceânicas do país: Arquipélago de São Pedro e São Paulo (PE), Arquipélago de Fernando de Noronha (PE), Atol das Rocas (RN) e Ilha da Trindade (ES). “Essas áreas têm enorme valor econômico, científico e estratégico, mas as comunidades biológicas ainda são desconhecidas”, informa a líder da pesquisa, a bióloga e pesquisadora Fernanda Azevedo do Laboratório de Biologia de Porifera da UFRJ.
Com esse trabalho, o Brasil possui 77 espécies registradas da classe Calcarea.“Descobertas como essa contribuem para a elaboração de planos de manejo, estratégias de monitoramento e também para avaliar as prioridades para a conservação”, avalia Fernanda. A bióloga explica que é importante conhecer a biodiversidade para compreender a estrutura e o funcionamento do ecossistema marinho, assim como auxiliar na identificação de possíveis espécies ameaçadas de extinção, endêmicas e invasoras.
As esponjas calcárias possuem esqueleto constituído por carbonato de cálcio. Futuramente, com a acidificação dos oceanos pelas mudanças climáticas, esse esqueleto pode ficar fragilizado. “Ainda não sabemos qual o impacto na vida marinha e pode ser que algumas espécies sejam extintas antes mesmo de serem descobertas”, explica a especialista. Parte dessa pesquisa contou com o financiamento da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e representa a integração dos resultados obtidos em dois projetos apoiados – um coordenado pelo pesquisador Fernando Moraes e outro pela pesquisadora Fernanda Azevedo.
Cinco curiosidades sobre as esponjas marinhas:
1 - O nome da esponja calcária Clathrina zelinhae foi escolhido pela equipe de pesquisadores para homenagear a chefe da Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas, Maurizélia de Brito Silva, conhecida como Zelinha.
2 - Em um experimento feito no início do século 20, células de esponjas foram isoladas e foi demonstrado que são capazes de se reagregar e reconstituir novamente uma esponja funcional. Isso significa que as células de uma esponja mantêm a memória necessária para formar novamente o indivíduo, enquanto outros animais só têm essa programação enquanto são embriões. O que acontece num experimento assim quando células de duas esponjas são misturadas? "Elas não só se reconstituem como fazem isso separadamente, porque percebem quem é quem", responde a professora Michelle Klautau, chefe do Laboratório de Biologia de Porifera da UFRJ.
3 - Dentre os animais vivos conhecidos atualmente, as esponjas são consideradas pela grande maioria dos cientistas como as mais antigas. Assim, estudando as esponjas é possível entender como a vida no planeta evoluiu. “As esponjas podem nos ajudar a compreender como deve ter sido o primeiro animal, o ancestral de todos os outros animais”, informa a pesquisadora Michelle Klautau.
4 - Diariamente as esponjas filtram milhares de litros de água, purificando a água do mar de metais pesados, vírus e bactérias. Cabe destacar que substâncias químicas retiradas de esponjas marinhas são princípios ativos de vários medicamentos, tais como o AZT (tratamento da AIDS), a eribulina (tratamento de câncer de mama) e o aciclovir (tratamento de herpes), entre outros.
5 - As esponjas têm um papel fundamental também na vida de outros organismos, uma vez que são verdadeiros "hotéis vivos", abrigando em seu corpo diversos organismos, tais como peixes, crustáceos, equinodermos, poliquetas e vários outros que podem viver a vida toda ou parte dela no interior de uma esponja.