A pandemia e a banalização da morte
Por Bebel Ritzmann
Chegamos aos quatro meses de isolamento social, ou mais de 200 dias, sem abraços, sem beijos, sem contatos. Claro, que tudo isso, para as pessoas que cumpriram as determinações dos órgãos competentes.
Com o passar do tempo, o isolamento social, ainda necessário, começa a ser relaxado pelas pessoas economicamente ativas. Os motivos são diversos, financeiros, depressão, teimosia, desinformação, e por aí vai...
A coragem de sair de casa, enfrentar o dia-a-dia nas ruas e frequentar o comércio, começa a aparecer nos indivíduos que observam a cidade, em pleno funcionamento, e ainda amedrontada.
Apenas saí para comprar remédios de minha avó e já percebi o relaxamento, a falta de uso de máscaras, muito desrespeito aos outros e a si mesmo.
Vejo, com grande preocupação, a banalização da morte. O sentimento do luto, necessário ao ser humano, em sua formação histórica, se dissolvendo. Quando antes, aquele sentimento profundo de dor, tristeza que nos invadia ao receber uma notícia de falecimento, começa a esvaziar-se. Ontem, fulano, hoje, beltrano e amanhã, sicrano. Tudo bem, qualquer hora, sou eu. E o obituário se estende para as redes sociais num mar de condolências.
Quem não tem medo da morte são, em minha opinião, aqueles que em nada mais têm a oferecer à sociedade e a ninguém. Vemos isso em assaltantes, que “corajosamente” enfrentam policiais, sem ter nada a perder. Muitas vezes, acabam por enlutar famílias.
A morte do indivíduo se dá a partir destes sentimentos banalizados, malcuidados, impostos, talvez. Afinal, então, qual é esse “novo luto”? Será que é fruto do nosso conhecimento da nossa fragilidade da nossa existência?
Ou será que esse descompasso entre um sentimento corriqueiro de luto e a necessidade de valorizarmos o “estar vivo”, nada mais seja do que um temporário contraponto, tal e qual o prato da balança, desequilibrada pelo enfrentamento individual da pandemia?
Essa é apenas uma reflexão sobre nossos valores, nossas responsabilidades e nossos sentimentos.
Por Bebel Ritzmann, jornalista e empresária da NCA Comunicação e Editora Ltda – Selo Livros Legais e editora dos jornais O Morador e Opinião Curitiba e da Revista Ações Legais
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