Falta de água em Curitiba: especialista explica como a natureza ajuda na garantia hídrica para a população
A falta de chuvas vem causando grandes problemas para os moradores da Grande Curitiba. Esse foi o mês de março mais seco na região, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia, tendo chovido 92% abaixo da média histórica para esse período na capital paranaense.
De acordo com Guilherme Karam, coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, é preciso desenvolver ações sustentáveis na recuperação de áreas degradadas nas bacias hídricas do Paraná para evitar que elas sejam impactadas por estiagens como a atual, garantindo assim que a população tenha pleno acesso à água.
“É preciso uma ação conjunta entre poder público, iniciativa privada e sociedade, como a que já existe no Movimento Viva Água, em São José dos Pinhais, na Bacia do Rio Miringuava. Lá são desenvolvidas iniciativas de conservação da natureza, recuperação de áreas degradadas e estímulo à agricultura sustentável, que buscam aumentar a resiliência do solo e evitar que o rio perca água tão rapidamente”, diz Karam. Em no máximo 10 anos, o Viva Água quer criar uma situação de garantia hídrica para 100% das pessoas e indústrias abastecidas pelo Miringuava.
Com a falta de chuvas, o aumento da temperatura e mais pessoas ficando em casa por conta do isolamento social decorrente do coronavírus, o consumo de água também cresceu entre as famílias. Por hora, cerca de 1,7 milhão de litros estão sendo consumidos acima da média da bacia.
Com isso, a Sanepar tem adotado um sistema de rodízio para os moradores abastecidos pelo rio Miringuava, cuja vazão média caiu de 1.300 litros por segundo para cerca de 680, segundo a própria companhia. Em alguns momentos do dia, inclusive, essa vazão é reduzida ainda mais para que o rio possa se recuperar.
Karam explica que o investimento em infraestrutura natural em mananciais aumenta a absorção de água, reduz a sedimentação e o assoreamento dos rios e melhora a qualidade da água, minimizando os custos com tratamento. “Essa é uma das frentes de atuação do Viva Água para reduzir a vulnerabilidade da bacia do Miringuava. Se a bacia em questão já contasse com uma cobertura natural bem estabelecida e conservada, o acúmulo de água no solo seria muito maior, fazendo com que os reflexos da estiagem não fossem sentidos de forma tão imediata”, conta Karam.
Lançado em 2019, o movimento Viva Água reúne mais de 60 atores da região do Miringuava, entre empresas, poder público, cooperativas, universidades e sociedade civil. Entre as metas do movimento para os próximos cinco anos estão a recuperação de 650 hectares de áreas estratégicas para a disponibilidade hídrica, a conservação de 1,5 mil hectares de áreas naturais por meio de mecanismos financeiros e o apoio a 30 negócios de impacto por meio do turismo rural e da agricultura sustentável.