Lava Jato, gestão de riscos e reputação corporativa são temas de debate em Curitiba
A importância da comunicação para a reputação corporativa diante da Lava Jato foi o tema proposto pela Central Press para um debate, que contou com a participação do produtor da TV Globo na cobertura da Lava Jato, José Vianna, da assessora de imprensa da Justiça Federal do Paraná, Christianne Machiavelli, e do presidente interino, diretor jurídico e líder da área de riscos e compliance da Fomento Paraná, Samuel Suss. O debate, promovido em parceria com a ADVB-PR (Associação dos Dirigentes de Vendas e marketing do Brasil), aconteceu na última terça-feira, na Universidade Positivo (UP), e reuniu profissionais da imprensa, empresários, acadêmicos e docentes dos cursos de Jornalismo e Direito da UP.
“Nossa proposta não foi falar sobre os desdobramentos da maior operação contra a corrupção da história do país, mas discutir como os resultados divulgados pela imprensa estão influenciando os rumos das empresas brasileiras”, explicou o sócio-proprietário da Central Press, o jornalista Claudio Stringari. Ele lembra que somente no escândalo da Petrobrás, a Operação Lava Jato já identificou um rombo de mais de 20 bilhões de reais. Para Stringari, os números assustam e mostram a dimensão da ilegalidade e irresponsabilidade de agentes públicos e corporativos, e revelam a falta de regras, estruturas e práticas de gestão de risco e controle interno sobre as ações dos administradores e gestores. O que acaba, segundo ele, comprometendo de maneira quase que definitiva a continuidade dos negócios, arranha a credibilidade, mancha a imagem e destrói a reputação das organizações estatais e privadas. “A reputação é o principal valor intangível de uma instituição. Os riscos reputacionais estão entre as maiores preocupações dos membros de conselho de administração das maiores corporações do mundo, inclusive do Brasil”, afirmou Stringari.
Para a jornalista Lorena Nogaroli, sócia-fundadora da Central Press, falta ao mundo corporativo nacional uma política eficaz de gerenciamento de crise e de riscos. “A comunicação assertiva, mesmo nos momentos mais conturbados e críticos, é fundamental para o fortalecimento da reputação das marcas”, disse. Diante disso, Lorena anunciou o lançamento de uma área de capacitação e treinamento em comunicação da Central Press, que traz um cardápio de cursos e palestras, visando à formação de profissionais mais preparados e engajados no relacionamento com a mídia. A equipe ganha reforços dos jornalistas Jeferson Souza e Fernanda Rocha na condução das atividades.
A Central Press já realiza, há mais de 15 anos, um trabalho de media training para seu portfólio de clientes, e agora decidiu expandir e compartilhar essa expertise no mercado de negócios. “Incrementamos o media training e passamos a customizá-lo de acordo com o público alvo e demanda corporativa; introduzimos treinamento teórico e prático, no qual o participante aprende o funcionamento dos meios de comunicação impresso, eletrônico e digital, recebe orientações sobre cuidados com a imagem e preparamos o profissional para atuar como porta voz”, explica o novo sócio da empresa na área de treinamento, Jeferson de Souza. A relação de palestras incluem temas como liderança, negócios, mídia, técnicas de feedback e redes sociais. Jeferson assinalou ainda que a área de capacitação e treinamento será responsável pelo desenvolvimento de guias e manuais de relacionamento com a imprensa e gestão de crises, tudo sob medida para cada demanda e organização.
Debate
O debate "Lava Jato e a Reputação Corporativa" trouxe para a discussão três pontos de vista sobre a questão: o da empresa, defendido pelo presidente interino, diretor jurídico e líder da área de riscos e compliance da Fomento Paraná, Samuel Suss; o da justiça, debatido pela assessora de imprensa da Justiça Federal do Paraná, Christianne Machiavelli; e o da imprensa, pelo produtor da TV Globo na cobertura da Operação Lava Jato, José Vianna.
Para Samuel Suss, os resultados da Lava Jato e de outras operações deflagradas deixam clara a necessidade de ferramentas, planejamento e códigos de ética e conduta no meio corporativo, além do engajamento dos colaboradores, líderes e gestores. “É uma questão de sobrevivência no negócio global a implantação de programas de compliance. É uma exigência e urgência mundiais”, enfatizou. Apesar de ser uma área de conhecimento nova no Brasil, fora do país, o compliance foi amplamente difundido na década de 1970, nos Estados Unidos, depois de escândalos corporativos. “Aqui, ela começou a se fazer presente com a Lei da Anticorrupção e se acentuou com a Lei das Estatais ou Lei de Responsabilidade das Estatais”, explicou Suss.
Christianne Machiavelli faz coro com Suss e reforça que, juntamente com a compliance, a adoção de uma política de comunicação adequada é a chave para preservar a reputação de órgãos e agentes públicos, empresas e empresários, porque reforça, na prática, os valores da eficiência, transparência, controle, moralidade e impessoalidade. “Penso que o Brasil precisa evoluir muito em relação a este assunto. E acredito que eventos como este indicam o caminho”, disse. Segundo ela, o Poder Judiciário está vendo com bons olhos a apuração da verdade dos fatos com tanta probidade pela imprensa. “Acredito que estamos aprendendo a fazer da comunicação uma ferramenta para aproximar a justiça do cidadão”, definiu.
Para o produtor José Vianna, mostrar os desdobramentos de casos de corrupção, lavagem de dinheiro, denunciar propinas, escândalos em tantos segmentos são responsabilidades dos comunicadores perante os brasileiros. “Mas tudo dentro dos parâmetros da verdade, da ética profissional e da investigação imparcial e apartidária”. Em três anos, a equipe de Vianna já produziu mais de mil reportagens sobre o assunto. “Devemos confiar em veículos que são sérios e éticos. Todos nós sabemos como boatos e mentiras podem impactar e destruir a vida das pessoas e de organizações. Esse debate reitera a importância de uma comunicação bem planejada, notícias apuradas e investigadas e profissionais preparados para lidar com crises”, ressaltou.
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