A sociedade possível após a pandemia precisa ser ambientalmente responsável
Por José Humberto de Souza, gestor da Agroforte
O que, primeiramente, tem sido reclamado como um dos objetivos da sociedade para o pós-pandemia são valores mais solidários. Imagina-se que sairemos desse momento histórico, em que nos vemos sendo orientados a manter distanciamento social, mais preocupados com as relações que estabelecemos com as outras pessoas, mas também com um novo olhar para as questões ambientais.
Podemos afirmar que o equilíbrio fino entre a ação humana e a natureza passa por um episódio de tensão. A disseminação do novo coronavírus que dizima há meses milhares de vidas em todo o mundo, hospitalizando adultos e crianças, colapsando sistemas de saúde, fechando empresas e acertando em cheio a economia aponta que já não é mais possível buscar reestabelecer o modo de vida como ele existia até então. Muitos reclamam para a criação de um ‘novo normal’, porém não se dão conta de que essa normalidade pretendida já começou a ser construída no agora.
Ao redor de todo o planeta novas rotinas foram estabelecidas. Lavar as mãos com mais frequência, cobrir o rosto com máscaras, evitar aglomeração e saídas desnecessárias são apenas algumas das mudanças. Há outras, consequências evidentes dessas primeiras: com o fechamento dos restaurantes tem se cozinhado mais em casa; como não se pode ir todos os dias pela manhã à padaria para comprar pão fresco as famílias têm aprendido como preparar a massa; uma passada rápida no supermercado ou frutaria se transformou em uma tarefa que necessita ser planejada. Com isso, uma quantidade maior de resíduos tem sido produzidos em cada lar, chamando a atenção para a destinação correta destes materiais. O que é reciclável, rejeito ou compostável? Qual a destinação correta?
Em uma perspectiva ampla essa mesma preocupação deve, se pretendemos aprender lições com a pandemia, orientar para uma nova relação entre sociedade e meio ambiente. Tendo em conta apenas os resíduos de peixes produzidos no litoral catarinense, maior estado produtor de pescados de todo o país, temos, por exemplo, toneladas de material com dois destinos possíveis: os aterros sanitários ou a indústria de reaproveitamento de proteína animal. Na primeira hipótese o animal é filetado e apenas as partes com valor para alimentação humana são utilizadas, gerando um grande transtorno às empresas que precisam lidar com as sobras, sem contar, evidentemente, com o desperdício de se jogar no lixo rabos, vísceras e cabeças de peixes que poderiam ter um destino muito mais nobre. A segunda opção, no entanto, está muito mais alinhada com essa responsabilidade ambiental pretendida. Diariamente, apenas para citar a Agroforte – empresa referência no setor brasileiro localizada há poucos quilômetros da capital catarinense Florianópolis – recebe até 200 toneladas de resíduos de pescado para processamento. Esse material é transformado em farinha e óleo que serão comercializados como matéria-prima para a fabricação de ração para cães, gatos e camarões. Isso reduz em absoluto o volume despejado nos lixões.
A atividade humana quando realizada de forma despreocupada com o meio ambiente coloca em risco a saúde de todos e as condições para as novas gerações. Repensar a forma como tratamos os resíduos é essencial para iniciarmos o debate sobre o mundo que pretendemos construir quando pudermos voltar a caminhar livremente pelas ruas.
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