A Expectativa da Volta
Desde o dia 30 de dezembro do ano passado até hoje permaneci veraneando na praia de Guaratuba mas chegou o momento de voltar e curtir minha temporada de aposentado em Curitiba; estou ansioso porque daqui alguns minutos estarei pilotando meu Fiat, 147, vermelho-taxi com minha mulher ao lado, lotado de malas, colchão de cama de casal amarrado com barbante na parte de fora do teto do veículo, ventilador, fogareiro a gás, panela de pressão, travesseiros e roupas de cama, vitrola portátil para discos de vinil, lampião de querosene e duas bicicletas “Monark” penduradas no suporte traseiro e pronto para percorrer as curvas da estrada Matinhos - Alexandra para então subir a Serra do Mar e chegar em casa.
Ontem aproveitei para pisar na areia da praia pela segunda vez sem entrar na água do mar, com intenção de dar voz de prisão para algum corrupto mas a tentativa foi em vão porque cada um que encontrei logo mostrou ordem de habeas corpus preventivo assinado pelo Gilmar, infelizmente a única coisa que consegui apanhar foi um bicho geográfico no dedinho do pé direito, fruto do desleixo de uma madame que passeava poderosa com seu cachorro Lulu pela areia. Coceirinha irritante.
Prevenido como eu só fui também até o local da partida do ferryboat para saber se a guerra anunciada entre a Prefeitura - o governo do Ratinho - e a empresa das balsas tinha terminado, mas infelizmente nada aconteceu. Foi tudo guerra com tiros de espoleta. As barcaças continuam infernizando a vida dos usuários com atrasos, barbeiragens na hora de atracar e seus proprietários agindo como piratas.
Cobram muito bem para oferecerem um péssimo serviço. Daqui há pouco vou arriscar e fazer a travessia mas já estou vestido com minha roupa de mergulho e tubo de oxigênio nas costas se por algum motivo tiver que pular no mar. É melhor previnir do que remediar. Agora vou contar uma verdade : susto mesmo eu levei quando recebi o talão do IPTU de um terreno que tenho aqui na praia, o tributo está mais caro que o valor do meu Fiat. Meu Deus, não sei onde tudo isso vai parar. Ah, estava esquecendo, não voltarei para cá no carnaval porque o Prefeito suspendeu os desfiles das escolas de samba e de blocos por causa da COVID.
Não que eu goste e nem que me interesse pelo carnaval é porque no período Momesco eu gosto de ir na areia da praia caçar corruptos porque eles sim é que se divertem nesse período. Bebem tanto que nem lembram que estão com o habeas corpus do Gilmar. No último carnaval peguei um monte deles que foram processados, condenados e depois infelizmente foram soltos pelo STF. Dentre eles estava o Luiz Ignácio. Mas foi divertido enquanto durou as prisões e isto ninguém pode duvidar. O carnaval não está no meu sangue de curitibano e nem no meu calendário pois nunca me imaginei sambando na avenida pulando como garnisé atrás de um trio elétrico.
Mas sem esquecer do politicamente correto quem gostar de carnaval que não se acanhe e continue pulando. Bem, tudo prontinho, a casa fechada, o carro revisado e em ponto de bala, minha mulher bonitinha me esperando dentro dele e só falta eu assumir o comando da nave. Antes porém vestirei minhas luvas de couro com os dedos à vista, colocarei meu chapéu de pano, padrão xadrez britânico e vestirei meu guarda-pó de gabardine sobre minha roupa de mergulho e depois então tomarei meu assento, apertarei o botão de ignição e ouvirei o som característico e único do motor possante do meu Fiat, 147. Ok, agora estou no volante e indo em direção ao ferryboat.
Não sei porquê eu olhei para trás pois já estou com saudades de Guaratuba, da sua gente, das suas ruas pacatas, da praia, das Caieiras, do Morro do Cristo e da canícula abrasadora que me fez entocado dias a fio dentro de meu quarto com meu inseparável ar condicionado …
“Quero chegar em Curitiba e sentir a alegria contagiante de minha gente ; aprender bons modos com o Requião; ouvir a ladainha do Álvaro de que reeleito dará fim ao foro privilegiado; aplaudir o Greca cantando nas cerimônias oficiais o hino da cidade; testemunhar o trabalho “estafante” do Ratinho ; e duelar com a COVID. Privilégio reservado para poucos e não para os que residem fora do Paraná!”
Édson Vidal Pinto