Vidas Nas Esquinas
Para quem quer trabalhar todo o lugar por mais perigoso que seja serve, principalmente num país em que o emprego formal rareia, a inflação cresce e o dinheiro foge do bolso. Fico imaginando uma pessoa na faixa etária de sessenta anos que perde o emprego , tem família para sustentar , obrigações a cumprir e tem que procurar vaga para um novo trabalho.
De repente a marcha do tempo faz passar uma semana, um mês e nenhuma oportunidade aparece daí começam a surgir os transtornos antes nunca imaginado pois sem a segurança do emprego as sombras do infortúnio batem na porta da frente da casa do desesperado.
E daí, o que fazer ? Como encontrar uma saída para driblar os credores, a escassez de comida e a falta de dinheiro para suprir as necessidades da família ? Fiz esta introdução por ser uma questão do qual não deixo de pensar quando paro meu carro numa esquina porque o sinal do semáforo está vermelho, e assisto uma pessoa ficar na frente dos veículos fazendo arremedo de malabarismo circense na esperança de receber dos motoristas no final da rápida apresentação alguns míseros trocados. Isto quando não aparece um outro que coloca para vender sobre o espelho lateral externo do carro uma pequena cartela de balas ou saquinhos contendo balas de goma de hortelã ou morango, numa frenética fração de segundos para em seguida recolher cada uma delas antes do sinal abrir.
Tem também adolescentes, com o rosto e mãos pintados de tinta prateada , que fazem mímicas sem nenhuma técnica e graça para no final tentarem receber da improvisada plateia alguma coisa em troca. E assim nas esquinas das principais ruas e avenidas da cidade trabalham diariamente estas pessoas sofridas, desconhecidas e esperançosas de poder fazer de um pequeno trecho da via pública o seu nicho de trabalho. Só quando chove muito o trabalho é interrompido pois mesmo no frio e na garoa a disposição é trabalhar para poder comer. Dar ou não dar dinheiro ? Eis uma questão de decisão muito pessoal porque afinal não dá para esquecer que essas pessoas estão trabalhando, bem diferente daqueles que carregam um pedaço de papelão onde está escrito : “Estou com Fome”. Estes ou estas são pessoas jovens, maltrapilhos, que exploram a comiseração do público e se apresentam como vítimas da sociedade capitalista. São frutos da chamada exclusão social mas que não estão em busca de trabalho e vivem do assistencialismo estatal e exploram os corações dos caridosos.
Habitam sob marquises de prédios, perambulam pelas ruas sem eira e nem beira, alguns enrolados em cobertores e seguido obedientemente pelo seu inseparável cachorro. E não querem trabalhar. Tente oferecer dinheiro em troca de cortar alguns metros de grama de sua casa que o sujeito não aceita. E se aceitar faz tudo rápido e porcamente porque não tem pendores para o trabalho. Vivem do modo que querem porque sabem muito bem que a a Prefeitura lhes dá amparo e o governo federal disponibiliza dinheiro sem exigir nenhuma contrapartida.
E o pior de tudo é que esse tipo de gente aumenta dia a dia na cidade vindo de todos os lugares porque sabem que só na cidade grande encontram melhor amparo. E não é apenas por aqui que está fermentando e aumentando esta massa de indivíduos mas em todas as cidades do mundo como se as sociedades humanas estivessem tão saturadas de gente, o emprego cada vez mais disputado, alimentos faltando para todos, que ditos pedintes foram banidos para que pudessem viver do modo como estão vivendo.
Não se trata de tema ideológico mas de uma constatação verdadeira pela hipocrisia dos governantes e religiosos de não permitirem um efetivo controle da natalidade para que ninguém fique fora da proteção do Estado. Na medida em que as populações aumentam os problemas sociais dobram nas áreas críticas do Estado : saúde, educação e segurança pública. Nos países socialistas matar milhões de pessoas e excluir propositalmente milhares delas para aliviar o peso do Estado é solução simples e rápida; no Estado democrático tal hipótese sequer pode ser cogitada.
É assim que caminha a humanidade num Século que está ainda aprendendo a engatinhar mas como será quando ele souber andar com tanta gente ao seu redor? Só quem viver até lá poderá testemunhar e dizer se sobraram ou não pessoas fora da chamada exclusão social …
“As sociedades do mundo vivem um mesmo impasse com a explosão demográfica desenfreada corroendo as entranhas dos Estados, sabidamente impotentes para colocar em prática suas políticas públicas. Existem duas sociedades humana: as visíveis e as invisíveis. Esta última existe porque ninguém quer enxergar. A solução de seus males não é ideológica mas de bom senso.”
Edson Vidal Pinto