Depois de um longo e tenebroso inverno atendi inúmeros pedidos e retornei à Senzala. Compareci aos trancos e barrancos na Academia do Coração, localizada no terceiro andar do Hospital do meu amigo Costantini, para os meus exercícios obrigatórios. Dela vivo fugindo, mas sempre sou encontrado pelo meu algoz cardiologista e tenho que retornar as torturas físicas. São oito anos de idas e vindas, pois como cardiopata rebelde sempre dá um jeitinho de escapar dessa minha obrigação.

Bem que diz o ditado: só relógio trabalha e não ganha nada! Sim, porque na Constituição está escrito que todo o trabalho corresponde a uma remuneração. Claro que nem sempre é assim, mas que está escrito, está. Só que tem uns e outros que exageram na medida, pois além de já ganhar acham que por “trabalhar” um pouco mais, tem direito assegurado.

Imagino que você neste momento não esteja pilotando a motocicleta dos seus sonhos, o veículo que lhe dá a sensação de poder e liberdade. Tudo bem, você gosta, usa a roupa de couro e sai pelo mundo afora. Tem tatuagem, lenço amarrado na cabeça, calça apertada, capacete desenhado, está sempre acompanhado de amigos e cada qual na sua própria moto; tudo bem, quem sou eu para censurar.

Começou o feriado e parece que o país mergulhou na calmaria. A imprensa não fala nada demais, a polícia descansa, a Justiça viaja, os políticos bebem, o povo está na praia e até o Lula parou de encher o saco. Todos estão muito bem, obrigado!

Dificilmente eu vou para o centro da cidade, só mesmo por necessidade é que percorro a Avenida das Flores e algumas ruas próximas. E como o consultório do meu oculista fica localizado em um dos edifícios daquela região, não tive como evitar o infortúnio.