A Matinê do Cine Ópera
A gurizada aguardava ansiosa a chegada do domingo pois as 10 horas da manhã no Cine Opera, localizado na menor avenida do mundo a Luiz Xavier, começava a sessão de desenhos animados com uma hora e alguns minutos de duração. Devem lembrar disto, quase com certeza, dos sessentões em diante, época em que os filmes de desenho, como, também, os de faroeste americano eram os preferidos do público de todas as idades. Mas os desenhos em quantidade eram exclusivo nas sessões domingueiras e matinais do tradicional cinema, com suas poltronas de couro e cortina de veludo rubro, que protegia a tela de projeção. O burburinho dos espectadores aumentava quando as luzes laterais da tela apagavam, a grande cortina abria, para começar a projeção dos filmes, todos de curta duração, uma característica dos desenhos animados.
Mas quando terminava um filme um outro começava, tudo ininterruptamente, até as luzes ascenderem. Dentre os principais desenhos tinham aqueles com o timbre de Fred Quimby, nome do produtor, cujos personagens principais eram o “Tom & Jerry”, que retratava a eterna perseguição do gato contra o rato. Não muito comum, mas as vezes também tinham, eram os filmes de Walt Disney com o seu Pato Donald, contudo, não faltavam trailer de seus longa metragens para atrair o público, tais como “Você Já foi à Bahia” estrelado pelo Zé Carioca (brasileiro) e o Pato Donald (americano); “A Branca de Neve e os Sete Anões”; “Bambi”; “Cinderela” e tantos outros filmes que ficaram gravados na memória de muita gente. Lembrando, ainda, que era uma época de ouro do rádio, da música brasileira, dos grandes artistas de teatro como Paulo Autran, Procopio Ferreira, Cacilda Becker, Tônia Carreiro, Natália Timberg, Eva Vilma e tantas outros que proporcionavam ao grande público opções de muito bom gosto, arte e interpretações marcantes. E a matinê do Cine Ópera era um atrativo para crianças e adolescentes, onde olhares mais doces não faltavam, e no apagar das luzes os “namoradinhos” ousavam pegar na mão de sua amada.
Tudo sem malícia e com muitos sonhos. Nos demais cinemas de Curitiba como o “Avenida”, “Palácio”, “Ritz”, “Arlequim”, “Marabá”, “Flórida”, “Guarani”, Curitiba”, ”America”, “Rivoli, “Morguenau” e “Lido” , as vezes, antes do noticiário e do filme principal, passava um desenho para agradar o público juvenil. E diga-se de passagem o cinema era um hábito cultivado pelas famílias, com as casas de projeções quase sempre cheias, pois os filmes (americanos) estavam em alta e os grandes artistas de Hollywood faziam parte do imaginário da maioria das pessoas. Foi até lançado um álbum de figurinhas “Os Ídolos da Tela” que se tornou mania na cidade, com pontos de trocas de figurinhas onde estava estampado o rosto do ator ou da atriz, e no álbum, embaixo da figura para ser colada estava a sua biografia com os nomes dos filmes que protagonizou. Hoje em dia, com a violência presente em todas as partes, os cinemas de rua estão desaparecendo, sobrevivendo há duras penas dentro dos shoppings, mas com público reduzido. A TV, com projeções de filmes ininterruptos está sufocando as salas de cinema. Arre, puxei pela memória este meu escrito, espero ter retratado o cenário de uma época de Curitiba, então provinciana, onde as famílias eram sempre ponto de convergência, e nos cinemas todos conheciam muitos, nem que fosse apenas de vista…
“Não sou do tempo do cinema mudo, nem do Tom Mix ou do Hopalong Cassidy; mas, sim, do Superman, Zorro, Durango Kid, Robin Hood e Ivanhoé. O cinema brasileiro vivia de chanchadas com os mestres Oscarito, Grande Otelo, Ankito, Zé Trindade, Eliane, Dercy Gonçalves, Violeta Ferraz e outros, todos precursores do cinema nacional. Havia sátira da política, nada sério, mas não se glorificavam guerrilheiros e nem terroristas.”