Perdi Minha Mulher!
Você gosta de viajar? E quem não gosta, hein? Viajar é uma das melhores coisas da vida — claro, estou falando de viagens de turismo, férias, descanso. Não importa quando ou para onde. Porque viajar a trabalho, para cumprir compromissos ou reuniões, é chato e enfadonho. Sempre que faço uma viagem aérea, penso na tripulação da aeronave. Todos eles estão ali viajando a trabalho, dia após dia, em uma rotina que, imagino, não deve ser nada agradável.
Conheço muitos amigos — e parentes, inclusive — que se programam com muita antecedência para fazerem suas viagens: compram passagens meses antes, elaboram roteiros, reservam hospedagens, tudo para que, na hora “H”, não precisem se preocupar com nada. Um bom viajante sabe que, especialmente em viagens internacionais, todos os detalhes previamente planejados fazem a diferença para aproveitar melhor a estadia. Time is money.
A propósito, nesta crônica vou contar um fato pitoresco de uma viagem feita por um saudoso colega de toga. Um ótimo chefe de família, cidadão exemplar e profissional como poucos. Tive o privilégio de ser presidente da 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, onde ele foi titular, juntamente com os desembargadores Glademir Panizzi, Guido Dobeli, Laertes Ferreira Gomes e Edgar Barbosa. Trabalhamos juntos por alguns anos.
O nome dele é Celso Seikiti Saito, filho de japoneses pioneiros na cidade de Londrina, onde era muito respeitado por ter sido conselheiro e orientador da comunidade nipônica da região.
O Des. Saito era casado com Dona Anita, também descendente da Terra do Sol Nascente, e ambos adoravam viajar pelo mundo. Quando ele voltava ao trabalho, contava com entusiasmo as novidades e curiosidades dos lugares que haviam visitado.
Em uma dessas viagens, foram à China — Pequim — e foi lá que o inusitado aconteceu. Ele contava esse episódio com bom humor, e o ambiente logo ficava descontraído. Mas dizia que, na hora, ficou deveras preocupado.
Como se sabe, Pequim tem uma população de quase 22 milhões de habitantes, todos com traços orientais muito semelhantes ao do casal de turistas. Certa manhã, resolveram caminhar pelas ruas para apreciar as vitrines das lojas comerciais. As calçadas fervilhavam de pedestres indo e vindo de todos os lados, quando, de repente, sua esposa soltou sua mão, atraída por uma vitrine de roupas femininas.
Foi o suficiente para que ele a perdesse de vista no meio da multidão.
Desesperado, subiu em um caixote na calçada, tentando localizá-la entre as centenas de rostos semelhantes. Mas não conseguia distingui-la em meio a tanta gente de olhos puxados.
Mais nervoso ainda, sem saber o que fazer, gritou do alto do caixote:
— Perdi minha mulher! Por favor, achem minha mulher!
Ele contava esse episódio dando boas gargalhadas. E nós, ao ouvir, imaginávamos a cena e caíamos na risada junto com ele…
“Tem personagens que fazem parte de nossas vidas, que pelo jeito de ser e agir, a gente nunca mais esquece. O Des. Celso Saito foi uma dessas pessoas que, quando foi morar nas estrelas, deixou um rastro enorme de amigos e muitas saudades.