O Namoro de Ontem
Ah, bons tempos de juventude cuja estreia era abrilhantada pelo interesse do sexo oposto, olhares, palavras de carinho, um olhar fugidio, o primeiro encontro, um leve toque de mãos, um sorriso correspondido, e o mundo se transformava em sonho com a eleita sob rígida vigilância paterna e o príncipe encantado sem um tostão no bolso. Não era assim? Claro que era, sem esquecer dos bailinhos na garagem de alguém, com o toca-disco tocando músicas do Ray Conniff, da Jovem Guarda, Rosemary e Cely Campelo, todos muito bem comportados, com os namoradinhos trocando juras de amor. E o beijo? Bem rapidinho e o outro muito tempo depois, quando ninguém estivesse olhando. E isto era quase impossível. E para oficializar o namoro?
Muito complicado, o moço com medo do pai da moça; a moça inibida e sem graça, principalmente para chegar na primeira vez na casa dos pais do rapaz. A comunicação entre os dois era com dia e hora marcada, nada de aparecer na casa da menina a qualquer hora, não mesmo. A “sogra” mais aterrorizava do que agradava, salvo raras exceções. Os irmãos da moça eram insuportáveis, vigilantes, chatos e debochados. E para continuar o namoro o rapaz tinha que vencer todas as barreiras, os avós, os tios, primos e primas, era o mesmo que matar um leão por dia. E as irmãs da namorada? Não davam tréguas e não perdoavam um mínimo avanço do sinal porque logo contavam ao pai. Namorar era uma arte de espionagem pois os riscos eram grandes e um beijinho um pouco demorado era o fim do James Bond. E o primeiro almoço na casa da garota? Todos da família ficavam olhando para o namorado, sem jeito, tentando se servir, mas suando e com vontade de sumir num redemoinho como o Saci. Uma experiência apenas para os fortes. E a moça no primeiro aniversário na casa dos pais do namorado? Tímida, inibida, falando baixinho, tentando agradar a família que não conhecia, e com vontade de que tudo terminasse o mais rápido possível. E ficar de mãos dadas perante ambas as famílias já dava certeza que muito tempo tinha passado por debaixo da ponte, pois isto não acontecia de uma semana para outra, era uma conquista que levava algum tempo. O namoro em casa era num mesmo sofá, na sala de visitas, com os familiares passando de lá para cá, daqui para lá, como se a sala fosse lugar de caminhada. Mas o namoro só tomava proporções maiores quando o rapaz falava e a moça e sua família dava atenção, ou quando, ele colocava a mão no ombro da garota sem que ninguém comentasse nada. Mas abrir a geladeira da casa do sogro por livre e espontânea vontade, nem pensar, muito menos, querer sair com a garota sem uma “vela”. Isto nem para ir na Missa de domingo. O namoro era uma conquista, cada dia uma batalha vencida, até o noivado. Entre este e o casamento só mudava mesmo a certeza de que o futuro dos pombinhos estava desenhado. Mesmo assim, o futuro sogro sempre tinha próximo das mãos uma espingarda de chumbinho, se o passarinho se metesse a besta. E hoje? Claro que não é assim para todos, mas, para muitos, o encontro é num bar a meia luz, o namoro é embalado pelo celular nas mãos, onde a moça aproveita o momento de estar junto de seu namorado para digitar mensagem para a melhor amiga, e o rapaz usando do seu para falar com um amigo. As vezes, cada qual, até resolve dormir na casa da própria família. Mas a casa dos sogros é parada obrigatória para o namorado abrir a geladeira e se servir de uma cerveja bem geladinha, antes de sair com a menina na garupa da moto para uma viajem, de final de semana, na praia. “”Ficar” para depois namorar! O casal de namorados tem vida própria, usam e abusam de tatuagens, são livres mesmo, sem inibições e nem freios. Os pais fecham os olhos e fingem que não estão vendo, afinal, eles também (ao que parecem) querem viver a vida longe dos filhos. Esta é a sociedade moderna, onde a licenciosidade fez ponto, pois cada um faz o que quer e pode, onde o aluno responde que sete mais sete é dezoito, e se o professor diz que está errado, a mãe do rebento faz uma baita reclamação no Ministério Público contra o mestre e este é demitido da escola.
Enfim este é o Século XXI, que está apenas começando, prometendo muitas mudanças, surpresas, sustos, histórias e o com globo terrestre usando de muita gasolina Texaco para realizar seus movimentos de rotação e translação.
-Ué? Gasolina por quê? - perguntou o Tucides.
-Ora, ora, meu amigo. - respondi. - Porque sem Texaco até o nosso planeta explode!!…
“Não não é comparar o namoro de ontem com o de hoje para despertar críticas, longe disto. Os tempos é que mudaram. As pessoas são iguais. Está apenas faltando Deus -, portando está faltando tudo! Dispensável escrever mais do isto.”